Neurose

Deu pra cá de empacar e eu tava com a mente num bordel de lombo amarelo e o corpo em Messejana subindo lombada com o volume do ônibus. Tinha as mãos juntas e contava 32 horas de alerta, em que até para piscar, os olhos se fechavam nervosos de não saber se sabiam abrir depois. Fiz gosto dessa tirania, punição irrelevante por carregar no sangue granulado o pedregulho heterogêneo de existir. Sobretudo o que verte pela garganta como chuva fora de temporada, sempre me deixa com a sensação de não saber se era melhor ter garganta ou não.

Sei que tem algum canto se aproximando quando passa o viaduto, ininhado por cinco ruas vertiginosa que principiam sua própria foz de congestão veicular. Em alinhamento, uma moto me cruza ( a mim que quero me fazer sentir parte do metal do ônibus) pela perpendicular e é como se eu e a rua da qual ela saiu espirrássemos a matéria preguenta da vida ao mesmo tempo. O sinal de lá fecha, e é como se cobríssemos nossas narinas verdes, ao mesmo tempo.

Nia Ferreira
Enviado por Nia Ferreira em 27/10/2020
Reeditado em 27/10/2020
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