ALGUMAS ROUPINHAS DE MAMÃE

Ontem, dia 28 de outubro de 2020, estive na casa de minha irmã Conceição Aparecida, na Rua Almenara, 40, Bairro Dom Bosco, aqui em Belo Horizonte. Sua residência fica a uns cem metros de distância da antiga morada de meus pais, na mesma rua, só que no número 15. Sempre que posso, compareço em sua casa. É a única irmã que Deus me ofereceu. Tenho prazer em visitá-la.

Sabendo que ela guardou algumas roupas de minha mãe, falecida em janeiro de 2007, pedi para ver a “blusinha azul” que mamãe tanto gostava de usar. Falei que queria “dar um cheirinho” na roupa e sentir um pouco a presença daquela que me gerou e me deu tantos exemplos de bondade, alegria, coragem, amor, honestidade, perseverança... Minha irmã me alertou que eu não iria aguentar e, certamente, poderia chorar. E não se enganou. Havia, sim, um pouco do perfume da mamãe, misturado com aquele cheirinho de guarda-roupa. Afinal, mais de treze anos já se passaram após sua partida e as roupas estavam ali guardadinhas.

Foi a Aparecida diretamente ao guarda-roupa e me apresentou aquela tal “blusinha azul”, um pouco puída nas mangas, bem como dois vestidos os quais mamãe gostava de usar e era com eles que, eventualmente, se vestia para ser levada a uma consulta médica.

Naquele instante, observando os detalhes de um dos vestidos, um deles, verde, cheio de florzinhas avermelhadas, com bolsos do lado esquerdo e direito, na posição da cintura...Aqueles detalhes me chamaram a atenção e não me contive. Consegui sentir a presença de mamãe. Claro que meus olhos foram inundados pelas lágrimas. Mamãe era muito especial, muito especial mesmo. Deus foi muito generoso comigo ao permitir que eu fosse gerado em seu ventre, numa cidadezinha humilde do interior de Minas, na roça, sem recursos. Mas o amor era a tônica de sua vida, na Piteira, lugarejo simples de Rio Espera, onde nasci e fiquei até os 4 anos, quando então, meu pai providenciou nossa mudança para Belo Horizonte, a capital mineira.

Ao sair da casa de minha irmã, ela me sugeriu que eu levasse um dos vestidinhos da mamãe. Para que eu guardasse. Não tive coragem, naquele momento. Talvez, em outra oportunidade, aceitarei a oferta. É que a saudade, embora seja uma palavra doce, é muito cruel, e me traz uma dorzinha malvada no coração. Certamente, todas as vezes que eu tocar nele, vou ficar muito sensibilizado.

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 29/10/2020
Reeditado em 01/11/2020
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