A roda gigante parou
“São tempos difíceis para os sonhadores.” Amélie Poulain
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E de repente o mundo girou e todos pararam. Um vírus e tudo mudou. Passamos a desfrutarmos de mais tempo juntos e menos tempo no trânsito. Fomos forçados a pararmos, a refletirmos e estávamos sendo convidados a mudarmos.
Adultos, crianças e idosos foram convocados a se retirarem e repensarem os seus atos, como se estivessem sendo obrigados a irem para o “cantinho de pensar” de uma sala de aula.
Nessa sala de aula a professora era a Terra, tão cheia de si e sábia, mas que já estava saturada e cansada da incoerência e falta de educação de seus alunos, nós os humanos.
O vírus nada mais era do que o diretor da escola suspendendo todos e forçando a reflexão. A suspensão portanto, era a quarentena.
Uma quarentena em tempos de quaresma. 40 dias para a transformação e renovação, como nos tempos de Jesus.
A professora iria descansar, se renovar e se recuperar. Enquanto isso, o diretor cuidaria para que todos esses alunos rebeldes, entrassem nos eixos, crescessem e quiça mudassem.
A chance estava lançada, e as opções eram escassas. Ou você mudava, ou seria expulso dessa escola, que conhecemos com o nome de Vida.
Os 7,7 bilhões de alunos dessa instituição foram obrigados a pararem e a se isolarem.
E então tiveram que enfrentar as suas sombras, suas próprias companhias e a velha conhecida - e extremamente temida - vulnerabilidade.
Todos precisaram decidir se estar só era solitude ou solidão.
Foram requisitados a reencontrarem-se com si mesmos, descobrindo o significado de essência e propósito em suas vidas.
Os medos e incertezas precisaram serem encarados de frente, de forma abrupta, e ressignificados.
Todos precisaram parar, respirar e ficar em casa.
A roda gigante da economia ficou estática e bagunçada, as cidades que não paravam nunca, foram forçadas a pararem.
As diferenças sociais já eram irrelevantes, dinheiro e influência já não valiam de nada.
O medo tomou conta de muitos e a esperança de um mundo melhor contaminou os sonhadores e confiantes.
E então os alunos aprenderam e se uniram, todos como um só, para ajudarem a professora que já estava tão triste e cansada.
Essa legião de alunos, antes inconsequentes e perdidos, a ajudaram a ficar bem e cada um se comprometeu a fazer a sua parte. Esses aprenderam sobre respeito, empatia e amor.
À vista disso, o diretor só foi embora quando percebeu que os alunos adquiriram um pouco mais de consciência e respeito pela professora. Infelizmente nem todos puderam permanecer na escola, ainda desrespeitosos e egoístas, precisaram ser expulsos para o bem da escola, da professora e dos demais alunos.
Houveram muitas expulsões, mas grande parte dos alunos puderam retornar para o seu cotidiano. Esse, já não era mais o mesmo também, recomeçava de forma mais leve e com valores revigorados.
O vírus, digo, o diretor, só foi embora quando a lição estava aprendida.
A partir disso, a professora já estava em paz e em completa harmonia com os seus alunos, que antes a desrespeitavam e agora a valorizavam.
Ainda haviam lições a serem aprendidas, mas por ora era só.