“UMA DATA PARA NÃO ESQUECER”

ALBERTO DE JESUS DOS SANTOS segue pela rua, noite fria de uma insistente garoa. Seus passos aumentam de acordo o ritmo dos pingos que agora tornam-se mais fortes. Estava ansioso para chegar em casa, pois era aniversário da sua filha Rebeca que estaria completando naquela data, naquela noite de garoa os seus 6 aninhos de vida. Ele aumenta os passos por vários motivos que impulsionam seu caminhar.

Eis que surge na mesma rua uma viatura de polícia, que ao passar por Alberto, freia bruscamente e já lhe dá a voz autoritária: ENCOSTA NA PAREDE.

Bairro de classe média, todo mundo é suspeito, principalmente sendo negro, andando em passos apressados pela noite e com o tempo chuvoso, dava o tom característico (Na visão do policial) que se travava de um suspeito.

Ele tenta falar algo mas é interrompido. O policial desce de arma na mão e diz: Mandei encostar na parede, seu preto safado.

Seria pela cor o emprego da elevação do tom de voz daquele funcionário público, que ao vestir uma farda e empunhar uma arma, agora tornava-se tão arrogante?.

Alberto obedece e já começa MANTER O CONTROLE DA SITUAÇÃO, pois sabia que naquele momento, sua pele estaria em plano de condenação por parte daquele policial.

O que você tem nessa mochila crioulo? Ele responde: É um bolo que estou levando para o aniversário da minha filha Senhor.

Bolo de aniversário? Tá chique em negão. Deixa eu ver, abra essa mochila. Alberto tenta fazer com cuidado para não amassar o bolo, mas o policial puxa com força e o bolo cai na calçada.

A Ira de Alberto se inflama, mas ele tenta não transparecer isso para não piorar a situação.

Sarcasticamente, o REPRESENTANTE DA LEI DIZ: - Que pena, negão, parece que não vai ter mais aniversário. Ele pisa no bolo enquanto pergunta ao indefeso contribuinte (que inclusive paga pela farda, pela viatura, pela gasolina, mas só não paga pela truculência desse despreparado policial) Você tem passagem pela polícia? Mostra os seus documentos, negrinho.

Ele pede autorização para pegar sua carteira (lentamente) pois não queria fazer nenhum movimento para que o seu interlocutor não achasse que ele estava reagindo aquela abordagem.

O POLICIAL PEGA A CARTEIRA E ABRE LENTAMENTE PARA CONFERIR A DOCUMENTAÇÃO.

Usa a lanterna para melhor fazer a leitura, Um outro policial desse da viatura e pergunta: Tudo bem ai Sargento? Sim, está tudo bem. Só vou conferir os documentos desse crioulo. A gente bem que podia dar uma ciranda com ele né não?

Deixa esse preto ir embora, é só mais um vagabundo vagando pela rua.

Alberto continua imóvel e sem que eles percebam aciona o celular, como se fizesse uma comunicação em secreto.

O debochado policial rir e acha até interessante a ideia da CIRANDA.

Mas é aconselhado a apenas fazer a revista. Aquilo não era uma revista, era na verdade uma humilhação, pela qual o Sr. Alberto passava naquele momento

Ao analisar a documentação, o Sargento fica estarrecido, olha para a sua PRESA, ali imóvel á sua frente sem lhe dizer uma palavra sequer. Ele olha para o colega, e ao fazer a leitura, da identificação onde se lia:

“República Federativa do Brasil – Ministério da Defesa, EXERCITO BRASILEIRO (Serviço de Identificação do Exército)

Carteira de Identidade numero (xxxxx) Lei 3069 de 08 de Janeiro – e Lei 2136 de 29 de agosto de 1983

Nome ALBERTO DE JESUS DOS SANTOS

TENENTE CORONEL R1”.

Afasta-se , faz continência e começa pedir desculpas. Nisso um carro preto com 5 oficiais do Exercito, chega naquele exato momento, um helicóptero faz a varredura do local com possante holofote.

Eles rendem os policiais da viatura, e perguntam ao TENENTE CORONEL ALBERTO: Está tudo bem Senhor?

Sim. Quero que prendam esses marginais fardados imediatamente, comunique aos seus superiores que tratem da expulsão imediata da corporação e prisão desses maus servidores.

O Arrogante policial ia falar algo, mas o Tenente ordenou: CALE A SUA BOCA SEU IDIOTA. Eu tinha deixado o meu carro a poucos metros daqui porque tinha furado o pneu e a garoa foi aumentando e eu tive que aumentar os passos para chegar em casa quando você de forma irresponsável me fez perder o bolo de aniversário da minha filha.

Você terá tempo para pensar na merda que você fez, achando-se superior a outra pessoa por conta da sua pele.

As providencias foram tomadas, conduziram os policiais para a sua respectiva corporação onde foi lavrado o BO, onde os ocupantes da viatura tiveram suas prisões efetuadas para procedimentos futuros regido pela legislação.

Lição:

Não se olha, não se mede e nem tampouco se condena alguém pela cor, pelas vestes, pela aparência, pela forma de falar, de andar, de comer, ou pelo local onde mora, pelo partido que vota, pelo time que torce, pela cidade ou estado que vive. Cada cidadão tem o direito de ir e vir, pois este direito lhe é assegurado pela Constituição Nacional Brasileira , conforme art. 5º, da Constituição que diz:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.

CARLOS SILVA POETA CANTADOR
Enviado por CARLOS SILVA POETA CANTADOR em 30/10/2020
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