" Crônica Suburbana "

Enfim, eu e Rita Maria ficamos sós!

Final de festa junina. Ela tinha recebido de presente uma queimadura de pólvora seca, justo, no lugar bem perto da morada preferida de um deus.

Queria que eu lhe fizesse um curativo, mesmo que rudimentar: Uma parceria entre o iôdo e minha mão.

Havia mais de uma opção onde ela se deitar, mas uma mulher ferida, talvez por instinto de preservação, procura o leito.

Tinha umas carnes de pêssegos orvalhados!

A pequena queimadura incomodava muito mais a mim que ela: A sua dor, talvez fosse um capricho para doer em mim.

E aproveitando-se da situação de vítima, acreditando-se enfêrma, entregou-se de alma, e presenteou-me o corpo solto, numa mistura de insolência e doce timidez.

Elogiou a energia que fluia em minhas mãos, na verdade, carícias disfarçadas.

E tudo nela, transpirava de prazer e agonia!

Bastaria um movimento, uma tortura reclamada...

Poupei-a com um sacrifício audaz: Um pássaro ferido tem a primazia da proteção, e até de uma carinhosa renuncia.

Fingí ignorar: A pele perfumada, o ventre todo molhado, as pernas estiradas ou recolhidas de prazer.

Usei uma diplomacia erótica: Apostei no futuro do seu corpo, a vir de encontro ao meu, repleto de alma.

Não deixou endereço, um telefone de contato. Não pedí!

Gosto de analizar os caprichos femininos:

Uma mulher quando teima em seduzir um homem, comete o sacrilégio próprio das heroínas!

Apesar das clínicas de saúde, da proliferação de médicos, ela virá, tirar o curativo e pedir outro.

Dirá talvez que tenho mãos abençoadas!

Virá por carencia, um atrevimento. Saudade!

Feliz espero!