De quem é a culpa?

Apesar do trocadinho, a coisa é séria. Ou, ao menos, deveria ser levado á sério.

Algumas idéias pairam na minha cabeça. Digo que são muitas, mas nem todas dignas de publicação. Às vezes é melhor deixar de publicar algo para preservar a amizade ou, ainda, os dentes. Confesso que gosto muito dos dois. Dos dentes, pois sou aficionada por carnes, lazanha e pão-de-queijo. Ficar sem os dentes seria um martírio pra mim. E amizades, pois ninguém vive isolado do mundo, na caverna do Platão.

Vira e mexe, eu sei, generalizo a coisa com argumentos estapafúrdios. Às vezes me esforço para isso. Na verdade, em todas as circunstancias.

O fato é que percebo que, além de mim, a mídia e a sociedade em geral (!) pegaram carona no meu barco. Não que eu me orgulhe disso, pois, em algumas vezes, vejo isso com péssimos olhos: seja pela falta de humildade, seja pela arrogância peculiar, seja porque estou de saco cheio como qualquer brasileiro.

Mas o fato é que temos olhado para esse imenso país com um olhar meio torto. Às vezes meio de soslaio. Aquela coisa desconfiada mesmo. E é aí que a coisa pega.

Ouvi, aos montes, uma porção de gente falando mal dos senadores que se abstiveram na votação do processo do Renan há umas semanas.

Antes de começar a coisa, já informo que não tenho procuração do Presidente do Senado para defender o cidadão. A idéia é outra.

Fiquei com algumas dúvidas. Não sobre o processo em si, mas de quem, de fato, é a culpa no processo todo do tal senador.

Seria da jornalista?

Da imprensa, como ultimamente têm adora dizer e culpar?

Dos próprios senadores?

Do Lula?

Da vovó Mafalda ou do falecido Pedro de Lara?

Dos eleitores?

Do Mainardi ou do Jabor?

Minha, porque não? Provavelmente já disseram que a culpa é desta cronista.

Sem generalizar e cair no senso comum, também não falarei que a culpa é nossa e essa balela toda que já estamos cansados de ouvir. O fato é um só: Aqui se faz, aqui se paga.

E o pagamento é, geralmente, na mesma moeda.

Perambulando pelo orkut e em rodas de discussões sobre política, o veredicto era o mesmo: O Renan tem que ser cassado! Os que se abstiveram tem que ser banidos do país! Isso é uma pouca vergonha.

Confesso que eu mesmo me deixei contagiar pelo espírito inquisidor da maioria e, senão, de toda sociedade brasileira.

Porém, num momento de, digamos, câimbra cerebral, eis que me veio à lembrança frases que muitos adoram bradar aos quatro cantos do país em época de eleição: “Vote nulo! Vote branco! Não vote!” e demais faça isso ou faça aquilo.

Pensando nisso, não condeno os senadores que se abstiveram. E, sabe do que mais? Não estavam errados não. Utilizaram-se de um direito constitucional e democrático. Se pensarmos bem, o voto nulo ou o branco, é uma maneira de abstenção também e, diferentemente do que muitos pensam, de protesto.

Protesto contra o quê? Protesto de quê? Protestar o quê? Não se sabe nem em quem votar, nem no que votar, nem pra que votar, quanto mais protestar.

Os que mais vociferaram sobre a abstenção são, justamente, aqueles que defendem se esconder na urna sem tomar partido (!); se esconder numa vestimenta de pura hipocrisia, num subterfúgio dos fracos que sempre são levados pelo senso comum.

Culpados os senadores abstêmios? Culpado Renan? Culpados nós? Não. Nenhum desses.

Por isso: Salve Pôncio Pliatos! Rei dos que se abstém! Símbolo augusto da paz!

Eu disse no começo que a coisa era séria. Por isso, assim como muitos, também lavo minhas mãos.