Conversa de Irmãos

11/11/2020

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Os dois irmãos encontravam-se agora com frequência. Todo mês ele a visita no interior do estado, vindo do sul do país. Estão mais próximos, pois não tiveram muito contato ao longo de suas vidas. Agora, na velhice, resgatavam essa relação sanguínea.

Talvez pelo fato de poderem ficar sozinhos logo, de serem deixados a qualquer momento pela mãe, devido à idade avançada - o pai já se fora há quase vinte anos. É a realidade da vida e da morte.

Foi ao encontro da irmã em um dia ensolarado. Visitaram a mãe na casa de saúde e depois foram almoçar A irmã, conhecedora dos locais da cidade, levou-o a um restaurante agradável, com árvores sombreando as mesas ao ar livre, um lugar bucólico.

- Que local bonito, hein?- disse o irmão.

- Sim, e a comida é ótima.

Sentaram em uma mesa isolada para poderem conversar calmamente. Fizeram o pedido ao garçom e aguardaram.

- Então, querida mana, como vão as coisas?

- Indo. E você?

- Tudo bem!

- A mamãe está esquecendo as coisas. Sabe como é? Mas o duro é que ela, às vezes, encasqueta com um negócio, fica falando, reclamando, sabe o jeito dela, não é? - comentou a irmã.

- Pois é! Não é fácil. Lembro de quando morei com ela, dizia que estava sendo roubada pela cuidadora. Toda hora falava desse assunto comigo, mas, na verdade, esquecia do local em que colocava o dinheiro - diz o irmão.

- Sim, ela sempre foi turrona assim. Comigo então, sempre no pé!

- Era mesmo, principalmente com os seus namorados. Vocês duas se desentendiam quase todas as noites, era um inferno.

- É... - respondeu a irmã melancolicamente com o olhar longe.

- Sempre achei que você se casou para sair de casa, pelas discussões que tinha com ela. Era natural que fizesse isso.

- Talvez. O papai era diferente, mais carinhoso comigo, conversava mais, me entendia. Eu e a mamãe sempre tivemos atrito.

- Papai comigo não era presente. Sabia que ele nunca foi a um jogo de futebol, competição de natação ou jogo de polo aquático meu? - responde o irmão.

- É mesmo?

- Sim. Você era o centro das atenções em casa, sempre o assunto no jantar. E eu não tinha nenhum problema, era homem. Não "aparecia", era um coadjuvante apenas. Tinha ciúmes de você.

- Engraçado! E eu de você com a mamãe. Você sempre foi "O Menino Jesus" para ela, como o papai falava, fazia tudo para você. Que coisa, não?

- Sim, que coisa mesmo. Eu sempre me senti como o patinho feio da nossa família, pois eu era o culpado de tudo de errado que acontecia, principalmente na infância, recebia os castigos dela, alguns injustamente. Fiquei traumatizado e inseguro por isso.

- Nossa, você era agitado, lembro bem, mas só daquela época de criança em que éramos mais próximos. Depois, eu fui para a escola semi-interna, você estudava à tarde e nos encontrávamos somente à noite no jantar - comenta a irmã.

- Sim. Aí você logo casou, engravidou e continuou sendo o centro das atenções. Eu, querendo que eles me "vissem", fazia as minhas viagens malucas de hippie; depois conclui aos trancos e barrancos a faculdade e sofri a falência da construtora. Hoje, vejo que montei a empresa para "mostrar a eles quem eu era", chamar a atenção. Mas não tenho, nem tinha estrela de ser empresário, cheguei à essa conclusão agora.

- Nossa, você deve ter sofrido, hein. Podíamos ter tido essa conversa antes, não?

- Sim, querida irmã. Agora vamos colocar tudo em dia, temos tempo, sabedoria e paciência que nossas vidas nos deram para sermos irmãos de fato, pois temos o mesmo sangue e amor.

- Sim, vamos sim! - responde a irmã sorrindo-lhe.

O garçom trouxe os pedidos cheirosos e apetitosos e começaram a almoçar.

A conversa sobre suas vidas seguiu recuperando a relação de irmãos de sangue que eram, pois logo seriam somente os dois no mundo.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 11/11/2020
Reeditado em 12/11/2020
Código do texto: T7109365
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