5 anos de Recanto, e nada a se comemorar!

Estou cansado. E para ser mais simples e verdadeiro, não tenho mais vontade de escrever. E não, este não é um daqueles textos onde a gente começa dizendo que não quer escrever e, de repente, puf, temos um texto metalinguístico sobre a falta de vontade de escrever. Isso é piegas. Além de piegas é também repetitivo e amador. E além de repetitivo e amador, eu já o fiz no passado.

Hoje faz cinco anos que postei meu primeiro texto no Recanto, na época eu estava muito apaixonado por uma ex colega de trabalho e seu aniversário seria (e ainda é) daqui a uma semana, então resolvi escrever-lhe um poema. Foi o único "presente" que pensei no momento. Bom, para não me alongar muito nesta parte inicial, eu fiz não só um, mas dois poemas, mandei o melhorzinho pra ela, ela leu e respondeu com um breve "que legal". Depois disso nunca mais nos falamos, ela iniciou um namoro, noivou, casou, teve filho e hoje não há algum vestígio de amizade entre nós dois. Eu amaria dizer que nestes cinco anos aprendi a não escrever pra quem não merece, porém fiz isso tantas vezes que sou incapaz de lembrar todas elas. Mas eu tinha os poemas — ridículos, mas tinha-os — e precisava fazer algo com eles, então, por inventivo de uma amiga, publiquei aqui no Recanto no dia doze do onze de dois mil e quinze. Não precisou de muitos elogios para que eu me empolgasse e passasse a publicar de forma quase (quase?) diária (risos). Sendo bem sincero, meus textos eram bem medíocres, e, claro, os recantistas só faziam elogiar. E este é um dos motivos de eu não me deixar levar por elogios, não se trata de baixa alto estima, como já me disseram em certa feita. Não. Se trata de: se vocês, os recantistas, elogiavam aquelas porcarias, como saber se não fazem o mesmo ainda hoje? Pois hoje eu melhorei e enxergo o quão medíocre eu era, porém eu ainda talvez o seja — isso é algo que a gente descobre apenas alguns anos a frente, depois de se evoluir um pouco mais.

Faz um bom tempo que não escrevo como estou fazendo agora, um texto mais franco, mais direito... me incomoda escrever alto tão datado, que se resume a este momento e nada mais. É que eu pensei muito esses últimos dias e não consegui escrever nada melhor, sempre tento publicar algo especial nesta data, mas esse texto aqui deixa bem claro o quanto não tenho mais vontade de escrever. Sabe, é fácil produzir um texto assim, direto, contando uma história sobre alguma coisa. Pois não tem arte, não tem significados, subjetividade, é exatamente o tipo de texto que com o tempo eu deixei de fazer. Então me render a esta facilidade é uma derrota dura demais de aceitar.

Não é a escrita o problema, entende? Ela é só uma consequência, meu desgosto não é com ela, é com a vida mesmo. Não me identifico com as coisas, quando penso em escrever, logo sinto que aquilo não me representa, por isso logo desisto. Estou me deslocando de mim mesmo a cada instante, não me reconhecendo em temas dos quais anteriormente eu dominava. Hoje o texto mais sincero que posso escrever é texto nenhum. Tenho ideias, isso eu tenho. Só falta — e sempre faltou — a paixão.

Eu definitivamente não tenho o discurso bonitinho de que sempre gostei de escrever, ou escrever é aquilo para qual eu nasci, ou esse papo idiota de "escrever exorciza meus demônios". Escrevo sem porquês. Zero paixão, e zero metas, e zero sonho de ser escritor, e zero objetivo. Zero tudo! Entretanto, se eu tiver de dar uma resposta clara sobre porque eu escrevo, provavelmente seria algo próximo de: escrevo pra fingir que ainda me importo com alguma coisa. Então para ser franco, muito franco, sem metáforas, sem ambiguidades, sem dourar pílulas e sem torturar tanto as palavras... eu só escrevo para fingir que não estou cansado de viver. É isso. Sem romantizações bestas. Sem palavras bonitinhas. Eu simplesmente estou cansado. E creio que isso não vá mudar tão cedo.

[Agradeço a todos os amigos que conheci durante esse tempo, dos que abandonaram a escrita aos ainda persistentes, dos que perdi o contato aos que de vez em quando lembram de mim. Todos somaram muito na minha pequena jornada.]

Um Rapaz Meio Estranho
Enviado por Um Rapaz Meio Estranho em 12/11/2020
Código do texto: T7110167
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