UM NOME FEZ MINHA FAMÍLIA E SÓ POSSO ESCREVER E PRONUNCIAR - Odila Congo Pinto
É o mínimo a se fazer: não deixar cair no esquecimento gente que somou ao construir o país. E a formar, cuidar, proteger a família (do outro) através da abnegação imposta por valores sociais, econômicos e religiosos - históricos.
Em minha família houve esta pessoa: Odila Congo Pinto. Quem era ela?
Na fazenda havia e há ainda aquele marco chamado de Cruzeiro dos Pintos. No outro lado da várzea havia aquela choupana de pau a pique e sapé. Morava toda uma família negra. Lembro que uma vez ao visitar o meu tio, que herdara a fazenda, cheguei visitar tal choupana. Seriam eles, penso hoje, parentes desta que morava na cidade com minha família?
Após a abolição da escravatura era proibido aos negros transitarem pelas estradas e caminhos do país. O casebre de barro e ramagem fora feito para abrigar aqueles negros e impedi-los de “vadiarem” entre Santa Bárbara do Tugúrio, Desterro do Melo e Alto do Rio Doce?
Estes negros teriam sido escravos de algum proprietário de sobrenome Pinto?
Sobre o tal marco, o cruzeiro, faço a inferência que seriam marcos de paragens de tropeiros para descanso e rezação. Ele está lá até hoje e relatos orais me vem à memória.
- Uma vez aqueles negros enterraram o recém-nascido aqui. O nosso avô fez desenterrar e levar o morto para o cemitério do Melo.
- O fulano não quer cuidar do cruzeiro com medo de que aqui construam capela.
Sei que ela se chama Odila Congo Pinto e ajudou minha mãe a cuidar dos filhos desde quando minha terceira irmã nasceu. Veio com a minha família para Barbacena quando meus pais assim o fizeram. Seu filho Carmo ela, solteira, não pode criar ou com ele conviver. Tal maternidade era segredo que tomei conhecimento somente quando eu era adulto. Ele morava com a avó, Sá Jovem, até quando ele foi para São Paulo.
Às vezes ela ia visitá-lo na casa de Marieta sua irmã. Batiam à porta e a notícia chegava: “O Carmo vai passar as férias lá na Colônia. Ele traz notícias do Manuelzinho, que está no Paraná”.
Era uma noite escura quando bateram na porta da sala de jantar. Era o Carmo noticiando: “Cheguei em casa e encontrei Sá Jovem morta na cama”.
Ela, a Odila sempre olhava para a Igreja do Carmo que era vista da porta de nossa cozinha e se punha a rezar. Sonhava em ter um barraco no átrio daquela capelinha. Ao olhar para a igrejinha de Senhora do Carmo rezava por um barraco e pelo seu Carmo que nunca pode cuidar.
Outra hora corria para a Capela de Aparecida e se punha à porta balbuciando orações dirigidas à padroeira. Tinha fé. E só fé podia ter.
Entrou no MOBRAL para ler e escrever e ter um emprego com renda. Nem isto conseguiu.
Eu, criança dormia em seu canto. A via rezando ou chorando debaixo das cobertas.
No natal pedia lenços para fazer turbante e esconder seus cabelos e não deixá-los cair na comida que preparava. Banhava-se em “Leite de Colônia” ou em “Leite de Rosas”.
Nunca tirava seu turbante feito de lenço, nem quando dormia.
Um dia me surpreendi: seu cabelo estava totalmente branco. E velha foi morar com seus sobrinhos. Veio a óbito.
E neste dia de CONSCIÊNCIA NEGRA só posso pensar em seu nome e suas origens:
Nome: Odila. Em 1980 foi a Desterro do Melo buscar seu registro de nascimento e eu a acompanhei. Ela foi ao cartório e eu fui à escola estadual fazer minha inscrição para professor.
Sobrenomes: Congo Pinto. Levanto a hipótese que “Congo” seria o país de origem de seus familiares. Pinto deve ser o sobrenome dos antigos proprietários de seus antepassados e que fundaram aquele Cruzeiro como marco.
Teriam meus avós comprado a fazenda do cruzeiro da família Pinto?
Pedi dados a um pesquisador e ele localizou o nome de um possível antepassado meu por possuir nome semelhante a do meu avô e bisavô. Este, segundo registro da terceira década dos 1800, deixou em documentos a seguinte inscrição relatada por um pesquisador:
“Leonardo, estou pesquisando a lista nominativa de 1831 do Arraial da Capela do Mello e encontrei os seguintes nomes:
Silvério José de Mello
Theodora Rosa (mulher)
Filhos: Antônio José Maria Anna
Escravos: José Luiz Maria Rosa Generosa” (Sic)
Não consta entre os escravos alguma referência como antepassado de Odila Congo Pinto. E meu avô nasceu no final daquele século. E tem apenas a semelhança, com o proprietário, de algum de seus substantivos próprios: Augusto Silvério de Mello Júnior.
Odila era afeto e Trabalho.
É o mínimo a se fazer: não deixar cair no esquecimento gente que somou ao construir o país. E a formar, cuidar, proteger a família (do outro) através da abnegação imposta por valores sociais, econômicos e religiosos - históricos.
Em minha família houve esta pessoa: Odila Congo Pinto. Quem era ela?
Na fazenda havia e há ainda aquele marco chamado de Cruzeiro dos Pintos. No outro lado da várzea havia aquela choupana de pau a pique e sapé. Morava toda uma família negra. Lembro que uma vez ao visitar o meu tio, que herdara a fazenda, cheguei visitar tal choupana. Seriam eles, penso hoje, parentes desta que morava na cidade com minha família?
Após a abolição da escravatura era proibido aos negros transitarem pelas estradas e caminhos do país. O casebre de barro e ramagem fora feito para abrigar aqueles negros e impedi-los de “vadiarem” entre Santa Bárbara do Tugúrio, Desterro do Melo e Alto do Rio Doce?
Estes negros teriam sido escravos de algum proprietário de sobrenome Pinto?
Sobre o tal marco, o cruzeiro, faço a inferência que seriam marcos de paragens de tropeiros para descanso e rezação. Ele está lá até hoje e relatos orais me vem à memória.
- Uma vez aqueles negros enterraram o recém-nascido aqui. O nosso avô fez desenterrar e levar o morto para o cemitério do Melo.
- O fulano não quer cuidar do cruzeiro com medo de que aqui construam capela.
Sei que ela se chama Odila Congo Pinto e ajudou minha mãe a cuidar dos filhos desde quando minha terceira irmã nasceu. Veio com a minha família para Barbacena quando meus pais assim o fizeram. Seu filho Carmo ela, solteira, não pode criar ou com ele conviver. Tal maternidade era segredo que tomei conhecimento somente quando eu era adulto. Ele morava com a avó, Sá Jovem, até quando ele foi para São Paulo.
Às vezes ela ia visitá-lo na casa de Marieta sua irmã. Batiam à porta e a notícia chegava: “O Carmo vai passar as férias lá na Colônia. Ele traz notícias do Manuelzinho, que está no Paraná”.
Era uma noite escura quando bateram na porta da sala de jantar. Era o Carmo noticiando: “Cheguei em casa e encontrei Sá Jovem morta na cama”.
Ela, a Odila sempre olhava para a Igreja do Carmo que era vista da porta de nossa cozinha e se punha a rezar. Sonhava em ter um barraco no átrio daquela capelinha. Ao olhar para a igrejinha de Senhora do Carmo rezava por um barraco e pelo seu Carmo que nunca pode cuidar.
Outra hora corria para a Capela de Aparecida e se punha à porta balbuciando orações dirigidas à padroeira. Tinha fé. E só fé podia ter.
Entrou no MOBRAL para ler e escrever e ter um emprego com renda. Nem isto conseguiu.
Eu, criança dormia em seu canto. A via rezando ou chorando debaixo das cobertas.
No natal pedia lenços para fazer turbante e esconder seus cabelos e não deixá-los cair na comida que preparava. Banhava-se em “Leite de Colônia” ou em “Leite de Rosas”.
Nunca tirava seu turbante feito de lenço, nem quando dormia.
Um dia me surpreendi: seu cabelo estava totalmente branco. E velha foi morar com seus sobrinhos. Veio a óbito.
E neste dia de CONSCIÊNCIA NEGRA só posso pensar em seu nome e suas origens:
Nome: Odila. Em 1980 foi a Desterro do Melo buscar seu registro de nascimento e eu a acompanhei. Ela foi ao cartório e eu fui à escola estadual fazer minha inscrição para professor.
Sobrenomes: Congo Pinto. Levanto a hipótese que “Congo” seria o país de origem de seus familiares. Pinto deve ser o sobrenome dos antigos proprietários de seus antepassados e que fundaram aquele Cruzeiro como marco.
Teriam meus avós comprado a fazenda do cruzeiro da família Pinto?
Pedi dados a um pesquisador e ele localizou o nome de um possível antepassado meu por possuir nome semelhante a do meu avô e bisavô. Este, segundo registro da terceira década dos 1800, deixou em documentos a seguinte inscrição relatada por um pesquisador:
“Leonardo, estou pesquisando a lista nominativa de 1831 do Arraial da Capela do Mello e encontrei os seguintes nomes:
Silvério José de Mello
Theodora Rosa (mulher)
Filhos: Antônio José Maria Anna
Escravos: José Luiz Maria Rosa Generosa” (Sic)
Não consta entre os escravos alguma referência como antepassado de Odila Congo Pinto. E meu avô nasceu no final daquele século. E tem apenas a semelhança, com o proprietário, de algum de seus substantivos próprios: Augusto Silvério de Mello Júnior.
Odila era afeto e Trabalho.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 20/20/2020
#memória #crônica #poesia #literaturabrasileira #poemasbrasileiros
#literaturaportuguesa #floresepoesia #mulherespoetas #digitalizações #esferográfica #terapiaocupacional #poetizandoavida
Direitos do texto e foto
reservados e protegidos segundo
Lei do Direito Autoral nº 9.610,
de 19 de Fevereiro de 1998.
Gosta de Poesias e Crônicas?
Siga Então:
_ POETAR_
https://www.facebook.com/PoetarPoesiaArte/
http://www.leonardolisboa.recantodasletras.com.br/
https://www.instagram.com/laocoonte2/
@leobcena
#poetarfacebook #leonardolisboarecantodasletras # @leobcena
ESCREVA PARA O AUTOR:
conversandocomoautor@gmail.com