Pandemônio ou Passadeus

Debruçada em um parapeito, olhando para o infinito... Assim, encontrei-me muitas vezes na janela de minha vida nos últimos dois anos, atingida por um vírus desconhecido e sem vacina que detonou as defesas de uma mulher forte e voraz, transformando-na em uma verdadeira Pandemia, isolada do mundo externo e presa dentro de si.

Não obstante, o meu caos interior fora copiado pela vida e minha triste realidade paralela foi disseminada pelo mundo, deixando a todos no mesmo estado inerte e sem defesas em que eu me encontrava.

E se passaram tantos dias desse Pandemônio e chorei tanto e em tantas madrugadas que fui capaz de transformar todo esse drama lírico em uma percepção aguçada e em estado de alerta.

De repente, na janela de minha vida encontrei-me novamente... 40 drágeas na mão esquerda, um copo de água e uma ideia fixa, baseada em compostos químicos que asseguravam minha liberdade e ali, eu, um ser repousante às 9h da manhã, ouvi o canto de cem pássaros invisíveis.

Não sei ao certo o que me despertou para aquela cantoria, mas pude identificar ao menos três tipos de “piopios” diferentes e num exercício de Reductio ad absurdum comecei imaginar sobre o que divagavam tais criaturas. Algum tipo de reflexão? Talvez um bate-papo? Uma declaração de amor ou de amizade? Ou quem sabe uma hipótese de cura para mim, para a humanidade? Quem sabe uma formulação esdrúxula de pensamento, como esta que se faz?

Fiquei ali, na janela da minha vida, monologando com o meu interior a observar aquelas aves que nem ao menos sei classificar, vagueando por inúmeras interrogações, voando, voando, voando...

Até que me dei conta de que como os passarinhos tinha que sair voando dali, daquele abismo e encontrei-me no tempo. Fui para outra dimensão, tornei-me um pássaro cantante que não mais necessita de comunicação e que se permite amanhecer todos os dias sem abismos, parapeitos ou drágeas. Sou dona do meu Castelo e a janela tornou-se um detalhe.

Ainda cética e sem crer em Deus, mas aqueles passarinhos...

Professora Juliana Sá / Língua Portuguesa

Escritores Escola Suely (Colonial)
Enviado por Escritores Escola Suely (Colonial) em 24/11/2020
Reeditado em 24/11/2020
Código do texto: T7119599
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