num momento em que quase tudo é sentir

Acho que aprendi a lidar com as minhas saudades.

Não. Na verdade eu sempre soube, mas achava bonito cultivá-las. Sabendo que independente do quanto doam, elas nos levam para lugares e pessoas em que fomos felizes e no final é isso: aprender a lidar. E não é que as respostas surgem no meio de uma tarde de primavera sem que sequer estejamos pensando no assunto? Eu que acreditei que toda essa universalidade dos acontecimentos sutis não passava de falácia poética. Mesmo que sempre estivessem na minha lista de coisas admiráveis. Quão bonito é a sutileza da percepção e o entendimento de que viver não é linear.

Não falar não significa não sentir e num silêncio cabe muitas palavras, mas é inevitável que aos poucos, a gente vá guardando tudo num cantinho do peito e aceitando que teremos de conviver com aquilo ali, que a vida precisa seguir e que segurar também pode doer.

Não se iludam, aprendi a lidar, mas ainda sussurro toda noite quando fecho os olhos antes de dormir: que saudade.

Num momento em que quase tudo é sentir, se eu lhe pedisse para me dizer uma música que lhe dê saudade, lembrarias de uma saudade triste ou feliz? Pode ser que a principal função da arte seja essa, de nos levar de volta para o lugar que o coração deseja estar. O último abraço, o primeiro colo, aquela gargalhada... algumas saudades morrem sozinhas, outras apenas param de doer.

Talvez nenhum outro sentimento tenha tanta eficácia em nos polir. Como li por aí “é preciso aproveitar a juventude, mas para isso, só sendo velho”.

Canta pra mim? Saudade.

#TextoDeQuinta

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 26/11/2020
Reeditado em 26/11/2020
Código do texto: T7120987
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