Realidade Alternativa

Eu acordo...

"Nossa, que noite mal dormida" - penso.

Sento-me na cama, como de costume, e começo a olhar para o chão até ter força para tirar a bunda do colchão fofinho.

- Ué?! O que houve aqui? - espanto-me.

Tudo em meu quarto estava mudado, e o mais estranho, é que quando acordei, não havia notado.

A cama estava na parede amarela, o guarda roupa na branca, o piso de cinza passou pra branco, a TV se tornou branca e ela também havia mudado sua posição.

"Teve construção aqui em casa?" - indago enquanto continuo olhando para o "novo" quarto.

Levanto-me rapidamente, o sono já não estava mais comigo, e vou ao banheiro jogar uma água no rosto.

A cada passo que dava percebia que não só meu quarto estava diferente, mas toda a casa. E quando falo "toda", quero me referir a "tudo" de modo literal, mesmo.

- Meu Deus, o que aconteceu aqui? - digo um pouco alto.

- O quê? O que foi, Peter? - minha mãe sai do quarto querendo saber o motivo do meu espanto.

- Mamãe, o que houve com nossa casa? Eu me lembro bem de que ontem nada estava assim.

- Assim como, Peter?

- Diferente, mamãe. Acredito que essa nem é a palavra certa, mas está tudo mudado. Olha - continuo falando enquanto mostro a mesa -, desde quando temos mesa de madeira? Até ontem era a nossa velha mesa de vidro. A senhora detesta mesa de madeira.

Minha mãe lança um olhar de quem não estava entendendo nada.

- Ah, meu Deus - continuo aflito -. Ali, mamãe - aponto para um dos nossos animais -, a Pipoca não é desta cor. É caramelo, lembra? E também...

- Peter - ela me interrompe -, acho melhor tu voltar a deitar. Não está se sentindo bem. E aquele é o Polo e não Pipoca. Esqueceu o nome do cachorro?

- Cachorro...? - sussurro -. Mas minha mãe só tem animais fêmeas.

Fixo meus olhos em minha mãe e ainda confuso, deixo de ir ao banheiro e volto para meu quarto.

08:33 da manhã, essa é a hora que meu celular mostra quando toco em seu botão power.

"Ao menos o celular é o mesmo." - falo em pensamento.

- Ah, já sei, com certeza esse horário Anne já está no trabalho. Vou mandar mensagem pra ela e contar todas as diferenças que presenciei até agora. Talvez eu tenha contado que aqui em casa teria reforma e não me lembro. Nunca se sabe...

Abro o WhatsApp, que por sinal está com seu ícone na cor amarelo dourado e deslizo até encontrar o número de minha amiga.

Nossa, o que o contato de Anne está fazendo aqui embaixo? Nós conversamos todos os dia, até onde sei. - penso.

Deixo minhas falas mentais de lado e começo contar à ela sobre o que estava acontecendo.

- Ei, doida! - começo -. Aqui em casa está tudo diferente. Sabe me dizer se eu te disse alguma coisa sobre reforma? Não sei o que está acontecendo, mas até meu animal de estimação é outro. Isso tudo é um sono? Kkkkkk. Me manda mensagem assim que puder.

Sem resposta...

Enquanto aguardo a resposta dela, noto que conversamos pouquíssimas vezes. O que teria acontecido entre nós?

A hora do almoço chega e ainda estranho tudo que vejo na... "minha casa". Minha mãe senta à mesa e come de forma bem rápida.

Terminamos e volto para meu quarto. Escuto que uma nova mensagem chegou ao meu celular e vou correndo ver se é Anne. Para minha sorte, é ela.

- Doida? - ela inicia sua resposta -. Nem meu melhor amigo me chama assim, Peter. Acho bom você ter um pouco mais de respeito por mim.

Fico surpreso no começo, mas respondo:

- Tá tudo bem contigo?

- Estou ótima! - ela responde friamente.

- Anne, já não basta as coisas por aqui estarem diferentes, e ainda vem tu me tratando deste jeito?

- Eu nem sei o motivo de tuas mensagens. Nem nos falávamos direito na escola.

- Como não? - questiono -. Vivíamos um do lado do outro. Não lembra?

Naquele momento, minha amiga, que por sinal estava muito estranha, sai do aplicativo repentinamente. Fico sem entender e ligo pra ela.

"Anne está em outra ligação". Esta é a mensagem que aparece a mim.

Minutos depois, ela retorna ao chat.

- É, tu tá louco! - exclama -. Nunca sentamos juntos na época do ensino médio. Tu era um "aparecido" que só sabia julgar e sorrir de quem errava. Me poupa dessa falácia, né Peter Alex?!

- Olha, sei que pode ser loucura, mas acho que estou em um outro mundo.

(mais alguns longos minutos esperando a resposta dela)

- Outro mundo? Como assim? - Anne questiona.

- Exatamente, outro mundo. Uma Realidade Alternativa.

- É, definitivamente está louco.

Sou bloqueado e fico ainda mais surpreso.

Para tentar me distrair, vou aos status e vejo o que meus amigos postaram recentemente.

Por mais que eu tivesse sido censurado virtualmente por minha... "amiga", ainda consigo ver sua última postagem. E lá dizia:

"Se esse não é meu melhor melhor amigo, não sei mais quem é" (uma foto acompanhada com a legenda).

James...

Este é o nome do ser humano que a acompanha na foto.

Estou em um outro mundo, sinto saudade de casa, e agora, tenho que conviver com a perda de uma grande amizade.