Complexo de Garfield

Mais uma segunda se aproxima no horizonte e ao invés do cantar do galo sou sacudido pelo som estridente do despertador. A ressaca do fim de semana, a noite mal dormida, e os pesadelos se mesclam formando o Megazorde da desgraça... mais uma segunda nasce e meu humor segue o mesmo padrão coeso (mau, no caso). Levanto já meio borocoxô, meio sem rumo, da cama. Tenho sempre a esperança de que eu possa lavar essa zicazira no banho. Eu até capricho no sabonete, dou um talento a mais na cara.

Mas Nada

Me olho no espelho e sem dizer uma palavra eu leio nos meus olhos: Odeio segundas-feiras. Igual o gatinho laranja, com listras pretas. Por acaso também amo lasanha.

O café desce quente, mas o frio no coração é tão agudo que não faz tanto efeito. Para coroar a Samsara pego sempre ônibus lotado e consigo enxergar no fundo dos olhos daquelas pobres almas o quão a vida tem sigo amarga com eles. Nas redes sociais consigo fisgar algumas frases de motivação e quase me escapa do fundo da goela um: Vai tomar no ...

Já teve umas piras existenciais logo cedo?

Do tipo: Por que afinal faço isso? Qual a razão de correr atrás de grana? Preciso mesmo das coisas que insisto em comprar? Trabalho para viver ou vivo para trabalhar? Por que nos pagam tão pouco e exigem tanto?

Caio imperceptivelmente em outra Samsara.

Enquanto beberico um pouco de caos, me divirto com bobagens do tipo:

“Seja o protagonista da sua vida”

“Faça acontecer”

“Sem dor, sem ganho”

Tento atenuar minha culpa. Racionalizo que, afinal, compro livros. Livros que não consigo ler pelo fato de estar cansado por acordar cedo, porém acordo cedo para ter dinheiro para comprar os livros, que não leio por estar cansad... Viu? Outro ciclo ferrado.

Tenho compartimentalizado meus sonhos, engavetando as coisas até ter uma oportunidade boa para colocar tudo em um lugar de destaque (esse tipo de pensamento surge, provavelmente, depois do almoço)

Sei que a vida é muito mais do que apenas desejar o fim de semana. Sei que a vida é mais rica do que apenas encher a cara, desejar um amor ou querer uma felicidade eterna (esse tipo de pensamento surge, provavelmente, antes de eu sair do trampo)

Segunda vai-se com o pôr do Sol. Já sinto o meu peito começar o degelo, e sempre tem alguém que te rouba um riso. A carranca dá lugar a um sorriso tímido.

Vou para a cama com um sentimento de dejá vu... O ciclo recomeça e não sei mais se pergunto onde estou ou quando?

Francisco Nascimento
Enviado por Francisco Nascimento em 30/11/2020
Código do texto: T7124383
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