TEMPO


Foi-se o tempo de encontros infinitos. Foi-se o momento da revelação sublime. A cotidianidade permitiu o desvanecimento dos sonhos infindáveis. Ah! Quem sabe o que virá depois? Eternos gestos de cumplicidade vã ou finitos sentimentos de perdas recorrentes? Não sei se a vida se nos revela como uma incógnita perdida na irremediável capacidade de sonhar. Há tantas coisas que não se compreende pela racionalidade humana, bem como tantas outras que se explicam. Veja, se a dor que nos acompanha não se resguardasse nos recantos de nossa alma, como poderíamos ser felizes, nem que fosse por um instante? Viver significa morrer a cada dia, mesmo assim insistimos, e é a aventura de viver e a capacidade de nos sentirmos eternos que marca e singulariza a existência humana.
Creio ser hoje um daquelas ocasiões em que nos reconhecemos frágeis, infinitamente frágeis pela certeza de nosso tempo finito. Percebo que este momento me faz pensar em outros que virão e, é essa certeza que me permite continuar sendo. Mesmo assim, infindáveis indecisões me acercam a alma atribulada pela dúvida e por não tocar as estrelas e sentir o indecifrável revelado no sentido cósmico.
Tanta racionalidade e emoções efêmeras quando da constatação da irremediável partida. A consciência do limite me embaça os olhos e não me deixa ser tranquila neste instante. Choro a convicção da perda, da saudade e do sentimento de ausência dos que se fizerem presentes em minha existência.
Nem sei se deveria escrever sobre tal emoção doída, mas como negar o que se passa n ‘alma? Um lamento silencioso se espalha e encontra refúgio, e não sei ao certo onde ele se esconde.
É tempo de dor, de alegria, de sentimentos contraditórios! É tempo de reconhecer um tempo que se esvairá no tempo. A temporalidade existencial é farta de significados humanos. Não é só a cronologia que define o tempo, mas, sobretudo o valor que a emoção lhe confere. O tempo de hoje, para mim em especial, tornou-se um tempo envolvido de dúvidas, da certeza das incertezas, de um tempo que ainda não defini. Não será essa perplexidade que faz do tempo uma eternidade?
Regina Barros Leal
Enviado por Regina Barros Leal em 01/12/2020
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