O rio e o beijo.

Era enorme o rio, tão grande como o engano daqueles que dizem ter matado por amor. Águas turbulentas, faziam círculos perfeitos, seus redemoinhos, torvelinhando no próprio perigo, pareciam satisfeitos.

Naquele dia aconteceu algo incomum e por conta disso, resolvêramos ir até a ponte, algo que não costumávamos fazer.

A nossa professora de francês não fora e seu namorado playboy no conversível amarelo, não a beijaria na boca, depois de deixá-la na entrada do colégio, com olhos sorridentes como o farol de Alexandria, sem todos os mistérios que incendeiam uma noite louca e a seus rituais de pura magia.

Dirigindo-nos para a ponte, eu ouvia os nossos passos descalços, estalando na calçada quente, sem mágoas, pré adolescentes, quando acreditamos que o mundo de tudo nos salva, ecoando risonhos, na direção de nossos melhores sonhos, sem ressalvas.

A ponte sobre a qual caminhávamos não cedia espaço para enganos...

Como hoje, aqueles que acidentalmente, mandam nudes para o whatsapp da igreja .

Apenas lembranças, que me encantaram ao longo dos anos.

Entre os aprendizados dessa época, não ria mais por qualquer bobagem.

Lembro que observava as pessoas sofrendo pelos mais variados motivos, a maior parte por erro de interpretação e nós, "os meninos do colégio) sofríamos pela ausência de nossos pais.

Assim, olhávamos o rio descer caudaloso na sua trajetória.e lá longe se perder na curva. Aquela visão, sequestrava o meu atenção.

Devo ter murmurado um "eu te amo", no ouvido da tarde.

Por que R...a menina com os cabelos mais lindos da escola, apareceu na estradinha de terra, ao lado da cerca, às margens do rio.

Marota e sorridente, atrevida, incandescente, com os seios emergentes, já andara de bicicleta, com o cabelo ao vento, no meio da rua, pelos meus pensamentos.

Então ela gritou:

"O primeiro que pular da ponte e chegar aqui, ganha um beijo. "

Quando vi meus camaradas, apressadamente desabotoando as camisas, me atirei no rio com roupa e tudo.

Sai uns cem metros depois dela, empurrado pela correnteza e voltei correndo pelo mato da margem, para receber o meu troféu, a minha senha para o céu.

Antes de me beijar ela disse:

Esse beijo, sempre teve o seu nome.

Era delicioso o perfume das jaboticabeiras.

Daniel Barthes.

BARTHES
Enviado por BARTHES em 07/12/2020
Código do texto: T7129552
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