Amarga que nem jiló
Na infância, eu tinha uma grande dificuldade de comer jiló, ainda que bem preparado, compondo o almoço ou o jantar, justamente pelo gosto amargo que eu julgava insuportável. Era um deus nos acuda. Todavia, tem gente que gosta, e até o degusta como tira-gosto. Certos passarinhos também gostam. Mas, é como o dito popular: “gosto não se discute”. Vixi!
Com o tempo fui tomando uma noção melhor da vida e percebi que nela temos momentos amargos, que são pequeninos diante da doçura grandiosa que ela nos oferece. E que, na maioria das vezes, valorizamos mais os pequeninos momentos amargos.
Então, podemos perceber que o jiló não é um fruto tão amargo assim, diante da nossa capacidade de transformá-lo em encanto aos nossos paladares. Tem gente que faz um doce de jiló que é uma delícia. Tem gente que prepara um jiló de tal forma que dá um sabor a mais, um “tchan”, à comida.
Com essas observações fui chegando à conclusão de que o jiló, mesmo cru, se nos prepararmos mentalmente, é possível que o saboreemos de forma resignada, até mesmo sorrindo, apesar das caretas inevitáveis.
Vejamos alguns exemplos tão presentes no cotidiano:
1º) nos momentos de crise financeira:
O gosto amargo desses momentos agrava-se a partir das reclamações, sem adotarmos medidas de contenção de despesas. E suaviza-se quando agimos resignadamente, procurando tirar proveito positivo da situação, cortando gastos desnecessários.
2º) nos momentos de enfermidade:
Se tirarmos proveito desses momentos para uma reflexão sobre a nossa postura diante da vida, buscando o autoconhecimento e correções de atitudes, estaremos suavizando o gosto amargo desses instantes aparentemente insuportáveis, possibilitando-nos à cura, principalmente para o entendimento e a compreensão desse processo de aprendizagem. Caso contrário, haja amargura e sofrimento!
3º) nas crises conjugais:
Neste caso, sempre o melhor caminho é a busca do entendimento e da compreensão mútuos.
Caso contrário, não importa que o outro não o entenda nem o compreenda. O importante é que você se entenda e se compreenda. Assim fica mais fácil, porque só depende de você.
4º) Diante da ofensa:
Realmente, o gosto da ofensa é bem amargo. Entretanto, temos o poder de escolher: experimentar esse gosto ou não.
Ou seja: sentimos o gosto somente daquilo que experimentamos e se quisermos experimentar.
E o treinamento para o exercício do perdão também tem um gosto amargo, devido a nossa ignorância no tocante a esse benefício em favor da nossa felicidade.
À medida que esse treinamento evolui, o gosto amargo vai desaparecendo e surgindo a doçura dos bons sentimentos em relação ao outro que julgávamos ofensor.
* * *
Eh! Buscarmos o melhor caminho para a tolerância, o entendimento e a compreensão dos momentos de crise, e resolvê-los com paciência, pode amargar que nem jiló, ou mais...
Todavia, assim como o jiló, todo remédio amargo parece intragável.
Amarga, mas resolve!