Reflexões de um entristecido

Sono... Silêncio... Rejeição... Isolamento... Distância.

Sempre fui um homem quieto, falava com poucas pessoas. Os outros me tinham como objeto de sarro, por causa disso me isolei de tudo. Fiz-me um escudo impenetrável, e os poucos que conseguem atravessá-lo sempre estarão comigo rindo ou chorando, despreocupados ou aflitos.

Muitos estão à borda, mas não passam dela (e talvez nunca passarão), não sei direito o porquê, mas ainda não consigo vê-los como grandes amigos. Talvez os que tenham passado nem sejam as melhores pessoas do mundo e eu possa estar me iludindo, mas quem vive ou já viveu uma ilusão?

A alegria contagiante de todos não me atinge, estou calado, parado, sozinho.

A família, distante agora, me conforta, mas, mesmo as lembranças de todos os momentos felizes que passamos juntos, não funcionam como remédio para meu problema, a ilusão na qual estou imerso é muito densa. Será Que o escudo quebrou e eu voltei a ser alvo dos risos daqueles que não gosta de mim, conseguindo assim, todos me atingir? Não, não pode ser.

Dentro do escudo, criei um novo mundo, onde sou brincalhão e sorrio facilmente, sou preocupado com as pessoas que estão dentro do meu escudo e faço tudo para ajudá-las; gosto de estar sempre parto delas, e é isso que me conforta e me faz viver. Mas, para as pessoas que estão além do escudo, sou ranzinza, sério, e as olho sempre com desprezo e inimizade.

Sinceramente, não gosto muito das pessoas e de muitas nem amigo quero ficar, não gosto das que me tratam com desprezo ou respondem ao meu sorriso com olhos em chamas. Das ignorantes, mantenho distância. Gosto, sim, de pessoas pacatas, alegres... Contadoras de histórias, estas existem poucas.

Ao olhar para mim, talvez você pense que sou um homem de duas caras; mas engana-se quem essa interpretação vê, pois, com o passar do tempo (e agora volto ao começo) me protegi em um escudo, para os de dentro, tenho uma forma maleável e estou apto às mudanças; para os de fora, tenho forma e cor bem definidas e rígidas.

Para mim em momentos de entristecimento, basta um sorriso de alguém perto, de alguém amigo. Mas agora, talvez, nem isso adiante, o medo, a solidão, a tristeza, a ilusão, a dúvida me dominam por inteiro.

No mundo novo em que leio das páginas brancas dos livros todos não passam de cópias e lhe transmito todo o meu pessimismo do momento. Minha vida está coberta por um pano negro, pequeno, talvez.

Estou melancólico, abatido, infeliz. Mas não sou assim, estou assim, sou alegre, muito alegre, falo até além da conta às vezes, perturbo todo mundo, mas no final volto até onde eu estou. E pergunto se tenho mesmo o direito de ficar como estou, se, a todo o momento, vejo ou ouço alguém se lamentar por motivos divergentes? Será que não deveria ajudar? À distância não me dá esse direito, embora seja um pilar que a todos gosta de ajudar. E eu mesmo respondo... Por que não, se até mesmo os palhaços ficam tristes?

O motivo para tal sentimento pode ser o nosso querido escudo e minha vontade de não mais falar com aqueles que me excluem ou de que não gosto por questões afetivas, talvez seja um pouco de rancor mesmo, pois, com esse sentimento, não nasci, mas, com o tempo aprendi.

Reflexões, agora, estou tendo, pois nesses momentos é que mais refletimos sobre o passado... Presente... E futuro. Por um lado, o arrependimento de muitas coisas, que aqui não cabe enumerar; por outro lado, os planos destes muitos nem realizados serão.

A paixão alucinante me enche os olhos e a simples menção de um nome me faz sorrir.

Agora...

O vasto lenço negro pertencente ao pior dos sentimentos, o medo, está se rasgando, e a luz enche novamente a minha alma. Talvez aquele sorriso tenha funcionado, a preocupação daqueles de que falo me ajudou a acabar com todo o meu sofrimento, o escudo foi refeito, a contagiante volta a dominar-me, estou de volta, simples assim, como um pássaro de volta ao ninho.

Bruno Edson
Enviado por Bruno Edson em 28/10/2007
Reeditado em 01/11/2007
Código do texto: T713311
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