QUANDO TE VEJO

QUANDO TE VEJO

Olhando para você, vejo o menino triste, amedrontado e esquecido em seus medos. Agora percebo a fragilidade do Ser humano e as tantas batalhas travadas em toda sua existência, há um momento na vida que não dá para fingir de ser forte ruindo todas as camadas de proteção erguidas a cada sentimento vivido; já não temos desculpas para a amargura calcificada em sua função de escudo diante das invasões emocionais; as perguntas sentenciam os conflitos interiores; as buscas por respostas ramificam conflitos que podem destruir os limites da razão; o seu limite periférico não admite qualquer invasão ameaçando seus conceitos e preconceitos bem postos em trincheiras de dores ocultadas em tantas guerras repletas de perdedores pagãos.

Quem sou eu, então? Um Ser que se autoflagela rasgando suas feridas sangrentas e infectas estando sempre a doer em sua consciência dependente de precipícios renováveis. Os olhos estão sempre marejados por lágrimas que não caem e a boca em riste por risos presos obstruídos por uma garganta presa por palavras malditas. As mãos podem tanta coisa, mas, despencam ao longo do corpo sem forças para segurar com firmeza as boas coisas que passam e não têm estações fixas.

São tantas feridas abertas e que nunca saram; tantos avisos que ignoramos; tantas bênçãos que nos cercam e não enxergamos, tão pouco as agradecemos; tantos desencontros e falta de rumo; tanto a doar e egoisticamente negamos. Sem o menor pudor nos depravamos para a vida, sobrepondo as condutas morais tornando imoral o nosso proceder.

Mas aquele menino triste vai aprendendo, dentro desse aparente caos, que pode sobreviver com todas as diferenças e viver da melhor formar possível com os seus cacos de vida, construindo um novo amanhã, não sei se belo, entretanto, digno da sua existência.

Essa situação do Ser humano com seus muitos e intermináveis conflitos existenciais, independe de ele ser bom ou má, a maneira como as coisas são postas e sentidas diferencia a ação que resultará em momentos de extremos, equilíbrio e, ou total inércia perante os acontecimentos.

Quando te vejo, vejo vários homens a procura de uma identidade.

Elvira Pereira de Araújo