APESAR

Este ano, apesar de tudo, tudo mesmo, gratidão é a primeira palavra que me vem à mente. Apesar da pandemia, a qual eu carinhosamente batizei de pandemônio, muitas coisas boas me aconteceram.

Depois de quase cinco meses de desemprego, tempo curto diga-se de passagem, consegui um bom emprego. O processo seletivo durou uma semana. Assumi meu posto na semana seguinte. Orgulhosamente, me tornei professora de inglês. Junto com a nova função, inúmeros desafios.

Apesar de eu ser totalmente analógica, precisei me tornar digital. E confesso que gostei bastante das aulas em formato online. Claro que nada substitui a gostosura que é um ambiente escolar.

Só que inovar foi preciso. E não somente eu, mas todos os professores e vários outros profissionais se reinventaram. Apesar da internet que teimava em cair, apesar de eu não ser tão tecnológica, sobrevivi. Em meio a lançamentos de notas e emissão de boletins, ganhei o carinho dos alunos.

Não foi somente minha vida profissional que se transformou. Apesar do meu choro em uma certa chamada de vídeo com os meus pais, consegui sorrir bastante nos outros encontros. Não é que o Rei Roberto tem razão? A gente chora, a gente ri, mas vive incríveis emoções. A forma positiva com que hoje encaro a vida passa longe daquela pessoa desesperada. Bem no início da quarentena, liguei aos prantos para uma amiga, questionando se as pessoas nunca mais se abraçariam. Do alto de sua sabedoria, ela me consolou e me fez enxergar as coisas de forma mais clara.

Apesar de saber que mesmo depois de vacinados ainda teremos que nos cuidar muito, fico super feliz quando vejo aquela agulhinha picando o braço de alguém. É lá do outro lado do mundo, eu sei, mas me dá uma esperança tão grande que me faltam palavras.

Todos me chamam de otimista demais. Sou mesmo. Acho que vocês já leram isso em outras crônicas. Existe um bombardeio de notícias ruins. Apesar disso, existe outro tanto de notícias boas.

Uma destas boas novas me arrancou um sorrisão. Estou concorrendo a um prêmio literário. Enquanto o resultado não sai, cruzo meus dedos bem forte. Vários colegas escritores estão no páreo. Meus dedos estão cruzados por eles também.

Cheguei até aqui com saúde. Apesar de uma realidade que ainda me assombra, carrego uma fé inabalável. Apesar das imagens assustadoras de pessoas se aglomerando e vivendo como se não houvesse amanhã, acredito nas transformações.

E uma das mudanças mais esperadas está acontecendo neste exato momento. Meu bloqueio criativo está ensaiando uma cerimônia do adeus. Querido, nossa despedida não terá lágrimas. Apesar de tudo, você sabe tão bem quanto eu que esta separação é necessária.