Ser perfeito. Eu não, obrigado

Ouvia "O quebra-nozes" de Tchaicóvsky, de uma beleza simétrica assustadora e comovente. Esse clássico do século XlX, cuja intensidade nunca arrefece.

Pensei em quantas memórias equivocadas e quantos erros durante o trajeto?

Quantas correções na partitura...

Alguns cometem um errinho aqui e outro acolá, para que o comum dos mortais não se aperceba de todas as suas perfeições. Talvez fosse sobre isso que Fernando Pessoa tenha escrito no seu "Poema em linha reta".

Quando Deus me criou, não mais tinha juízo à disposição, então sobrou safadeza.

Tenho uma amiga onde se acumularam uma tonelada de "quases". Claro que mais por conta da minha imaginação delirante.

Ela me mandou um texto soberbo.

Na memória, nenhum dos beijos acesos, com os quais já lhe tapara a boca.

Ela é aquela pessoa que pedimos em nossas orações, para que apareça em nossa história, nos oferecendo um sorriso no calor da manhã e nos ensinando a sermos melhores que antes.

Em seu texto polêmico para o senso comum, a monogamia é mencionada enquanto uma das responsáveis pela violência doméstica, existente entre casais.

Entre outras coisas; diz ser inconcebivel que haja paz no mundo, sem que antes, haja paz nos relacionamentos amorosos.

O grande erro seria a posse...

E a genuína compaixão e solidariedade, em tese, nos ajudariam a superar esse egoísmo primário.

Contudo, creio que um ser humano não é um contato inanimado. A cada beijo, a cada sorriso, a cada filho mudamos a outra/o outro e nos mudamos também.

Tornamos-nos híbridos, depósito de afetos, lembranças, vivências, sonhos.

É sempre dolorido desistir de um trajeto comum.(Ainda que, muitas das vezes, desistir seja sabedoria)

Quem nunca teve uma má fase, que logo depois ficou ainda pior?

Sem mais gracinhas, creio que devemos nos permitir a possibilidade do erro, para não enlouquecermos e desenvolvermos resiliência as crises eventuais.

O amor não pode ser tóxico (algo utópico em uma sociedade tóxica), mas a idéia é desenvolver anticorpos para essa toxicidade, através do afeto. Cristo tem razão.

O afeto é também o melhor alimento para desenvolver resiliência, para nós e para os outros.

Barthes.

BARTHES
Enviado por BARTHES em 27/12/2020
Código do texto: T7145285
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