Sobrevivi a 2020

Sobrevivi. A sensação que tenho é essa.

Eu sobrevivi ao ano de 2020.

Não vivi esse último ano. Lutei para não me afogar: nos dias de isolamento em casa, nas relações que tive e nas que se romperam, no trabalho, nas leituras, na minha mente caótica, no meu próprio eu, na saudade, nas minhas vontades, no meu desejo por mudanças, no meu amadurecimento, na solidão, nas incertezas. Foi um ano difícil. Muito. É um difícil que eu não consigo explicar em palavras para o outro. Foi um ano difícil dentro de mim, de uma forma que eu não sei como aguentei, mas aqui estou eu, em 2021, no 5º dia do ano. Apenas minhas lágrimas, noites de insônia, livros lidos e textos escritos conseguem explicar o que esse ano significou para mim.

Sei que mar calmo nunca fez bom marinheiro, mas p*** merda, eu não merecia tomar caldo o ano todo. Nunca me senti tão à deriva. Eu tive que boiar para não afundar.

No ano em que mais estive longe das pessoas que eu amo, foi aí que mais eu me aproximei de mim. Eu descobri o ser humano incrível e forte que eu sou. E também caótico. Eu pude ouvir a minha própria voz, que andava tão silenciada pelo o que os outros esperavam de mim. Só que não se engane, o autoconhecimento não é prazeroso. Dói. É um processo dolorido. O “conhece-te a ti mesmo” não é nada glamouroso. É um processo solitário e silencioso. Por fora, ninguém vê ou nota que algo está mudando. Por dentro, todo um universo está se expandindo e se fundindo. É comparável ao mar: por fora vemos a imensidão, vemos as ondas, molhamos os pés, mas por dentro... ah, por dentro é que temos a dimensão da imensidão. É profundo. É inexplicável. É bonito.

Para 2020 eu só pedi paz. Só isso. Engraçado que eu não tive um dia de paz sequer. Irônico, né? Com a paz eu teria estabilidade para lidar com todos os aspectos da minha vida. Tive estabilidade? Óbvio que não. Tudo saiu do controle. Às vezes, foi a melhor coisa. Em outras, foi o fim do mundo. Em ambos os casos, eu venci. Eu achei que ia vencer? Não, não achei. Mas consegui. Apesar de tudo, continuei de pé. Em um ano em que continuar respirando se mostrou um desafio, posso considerar isso a minha maior vitória.

Os que eu amo foram muito, muito importantes para que eu atravessasse esse ano que findou. Eu descobri que são poucos os que posso contar, mas que esses são os mais especiais. Me decepcionei com pessoas que eu jamais pensei que poderiam me machucar, mas tudo bem, eu perdoo e as deixo livres para sair da minha vida, sem mágoa.

Para esse ano que se inicia, eu não vou fazer planos. Aprendi que não tenho controle sobre nada. Era tudo ilusão. A vida não segue nenhum plano. Eu só quero saúde (e a vacina) para todo mundo, especialmente quem eu quero bem. Se eu tiver saúde, física e mental, posso conquistar o resto. No mais, só agradeço. 2020 me fez mais forte. Sou grata por estar aqui. Não sou grato pelo caminho que tive que percorrer para chegar até aqui, porque doeu demais, mas a vida não é fácil. Só quero relembrar que sobrevivi. Eu não sabia que era tão forte assim.

Eu sobrevivi a 2020. Em 2021, eu quero viver.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 05/01/2021
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