Diário de um homem invisível sem superpoderes

Tudo começou em um quinta-feira, onde tudo era comum e comum era tudo. O mundo silencioso se transmutou no caos convexo. Não lembro depois disso, só sei que tudo tinha ficado de tal maneira. Acordo e penso se consigo relembrar de antes de tudo, mas parece haver um lapso de memória, só possuo lembranças vagas dos meus pais: meu pai com um rosto abatido do excesso da labuta, mãos cheias de calo e suor, uma pele queimada pelo sol sem fim, lembro que quase todo tempo ele era feliz. Enquanto, minha mãe com seus ideais revolucionários, uma mulher fora de seu tempo- talvez além de seu tempo-, com seus óculos que a deixavam uma mulher culta, seu rosto belo e sagaz, com um olhar calmo e reflexivo, que me acalmava, uma pureza singular com seus cabelos cacheados. Além dessa memória paterna, lembro-me quando fui separado deles e só sei que tudo continua como está hoje desde então. Moro nessa rua, moro naquela, moro naquela outra, moro em qualquer lugar. Passo os dias observando o caos diário dos homens. Pessoas, bicicletas com gente, motos dirigidas por osvaldos, carros dirigidos por franciscos e outros automóveis andados por senhores. E eu só aqui. Já perdi a conta de dias que estou aqui, quanto tempo já se foi e quanto tempo me resta. Pela noite me acostumei com o frio interno nos meus ossos e músculos, com o ranger dos meus dentes e com tremor da minha alma. Há muita loucura nas ruas da noite, que o homem não pode imaginar. Já cansei de pedir dinheiro, sou um mero rejeitado no clube dos marginalizados, seguindo o meu rumo destinado pelas estrelas. Nos dias que durmo, sou acordado pela manhã acordo com o rimar diário das buzinas, os gritos incompreensíveis e os solares de pés. O que será que tais homens se estressam tanto com tudo, o que eles têm? Vão com pressa para onde? Olham-me com se eu fosse invisível, ou eu sou invisível? Possuo tantas perguntas que não servem para nada. Talvez, eu seja como elas, sirva para um nada único com a função de agregar o narciso de alguns. Se pessoas como eu não existissem, quem os ''GRANDES HOMENS'' culpariam por ser o câncer da sociedade? Quem os pais diriam para os filhos não serem semelhantes a gente? Comos esses falsos grandes iriam hieriquizar financeiramente e socialmente a sociedade? Mais uma vez meus pensamentos e reflexões inúteis. A fome e a indiferença são meu nome, e meu âmago é o mundo. Acho que foi bom ter encontrado esse diário e essa caneta no lixão, agora tenho com que falar além de mim mesmo. Talvez, aqui eu possa colocar a história de um homem rejeitado, ou um homem invisível sem superpoderes. Não sei que dia é hoje, mas vou começar como se hoje fosse dia 28 do mês 4 de 1999.

Assino aqui como Roberto K.

Salomão Araújo
Enviado por Salomão Araújo em 08/01/2021
Código do texto: T7155055
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