Saudades

A gente sente saudades das pessoas, que se foram que nos amavam.

Agente sente saudades das pessoas, que participaram da nossa infância.

A gente sente saudades das pessoas, que foram boas conosco.

Muitas se foram, ficou um vazio, mas Deus coloca outras no lugar para a gente voltar a viver e a ser feliz, mas fica a recordação.

Ontem falei com o meu primo predileto Márcio, falamos dos Bonacelli, fui dormir com isto na cabeça.

Da minha avó Giulia sinto saudades do seu colo de quando me pegava, colocava perto do seu coração. Quando eu caia ou me machucava de como cuidava de mim, como se ria das besteiras que eu falava, eu dizia que a gente fazia xixi pela bundinha e coco pela frente. Dos seus olhos enormes vovó era míope, usava óculos redondinhos e os seus olhos ficavam ainda maiores com os óculos.

Do meu avô Salvadore, das usa histórias do tempo da primeira guerra mundial na qual os italianos vieram buscá-lo no Brasil, que ele foi entrou como soldado, saiu como sargento. Foi ferido três vezes, ganhou três medalhas. Contou-me uma vez que assim que chegou na guerra estava com o cobertor amarrado na frente, quando precisou dele à noite, o abriu viu que o cobertor tinha muitos buracos das balas que passavam. Que se escondeu na trincheira debaixo dos mortos para o inimigo não o achar, que chegou a tomar a própria urina, não tinha água para beber. Que era tido no batalhão como o homem que não morria.

Depois da guerra foi para a fazenda do seu avô Tonino Bonacelli em Magnacavallo, lá conheceu a atriz que era sua prima que na época tinha apenas doze anos. Fez um curso para consertar máquinas de tecer, só voltou da Itália, sua mãe lhe pediu muito por carta para ele retornar, pois sentia saudades dele.

Quando chegou minha avó era sua vizinha, se casou com ela, mandou vir da Itália o vertido dela de casamento. Contou que guardava o terno, o sapado do seu casamento e a mala que foi para a Itália. Ficou viúvo vários anos, eu perguntei se não gostaria se se casar de novo, ele me disse que a minha avó tinha sido o grande amor da vida dele, que não tinha outra mulher no mundo igual.

Ia me visitar, eu morava no lugar da fábrica América Fabril que ele tinha trabalhado, acabei estudando italiano para conversar com ele, ele não tinha mais ninguém que falasse italiano com ele. Um dia perguntei o que faria se quisesse conhecer os Bonacelli de Magnacavallo. Vovô me disse: - É muito simples apanhe um trem até Ostilga, de lá um táxi, na praça da cidade pergunte aonde é a fazenda dos Bonacellis, foi o que eu fiz e conheci o meu primo Mário.

Caiu no chuveiro quebrou o braço e a clavícula o médico disse que ele não ia consegui erguer mais o braço, vovô conseguiu e até mostrava. Da sua vontade de sorrir de novo, depois que perdeu quase todos os dentes, ele foi ao dentista, pediu que lhe tirasse o seu último dente e colocasse uma dentadura para ele pudesse voltar a sorrir.

Contava que não tinha Alzheimer porque tomava todos os dias na hora do almoço uma taça de vinho tinto. Morreu, aos noventa e dois anos no dia trinta um de dezembro no dia do aniversário da minha prima Marina nos braços do meu pai. Eu fui ao seu enterro no dia do meu aniversário do dia primeiro de janeiro, fiquei muito triste foi uma grande perda.

Sinto saudades também do sorriso maravilhoso do Tio Tião, quando ele ria, ria o seu rosto todo jamais esquecerei. E sempre me perguntava, como vai Dorinha?

Do meu padrinho, tio a pessoa que me deixava brincar com ele quando ia nos visitar, que me deu de presente na minha primeira comunhão a Bíblia em quadrinhos toda colorida. Foi com ele fiz a minha primeira viagem, me lembro que a noite no hotel em Aparecida eu tinha gazes, soltava pum e titio dizia que era o gato que estava debaixo da cama. Ele era o irmão mais querido do meu pai, mais engraçado, divertido, o meu tio e padrinho querido.

Do tio Naná me recordo que me contava as coisas de acampamento, ele era escoteiro, me levava para andar na garupa da sua bicicleta.

O tio George só o conheci quando era já grande, quando ele tocou a campainha, fui atender pensei que era meu pai de tanto parecido que ele era.

Ainda tenho tia Julia a pessoa mais carinhosa que conheço na vida. Ela ficou tão encantada comigo quando eu era que criança que disse: - Quero ter também uma filha. Deus realizou o seu sonho, veio a minha prima Marina que cuida muito bem da sua mãezinha. Ela sempre cheira a rosas.

Tio Alvinho o galego foi o único que puxou os olhos grande da vovó, só que tem olhos azuis, sempre foi muito quieto, tímido papai me levava para ver ele jogar futebol. Este ano completa os seus noventa anos bem vividos.

Do papai não vou falar, ele me faz muita falta, tenho muitas coisas dele, a organização o de gostar de me relacionar, ele foi um grande agente de relações públicas se dava com todo mundo. Sinto falta das suas piadas, da sua forma de ver o mundo. Shakespeare tem razão na gente tem muita coisa do nosso pai, mais do que a gente possa imaginar.