[ anticrônica #4 ]

um país sem auxílio e com altos preços.

um país que não auxilia

e que ignora seus preços.

um país onde o serviço é essencial,

mas a pessoa, não.

um país sem governo — apesar de tê-lo;

segundo a constituição.

o militar eleito

com 57,8 milhões de votos.

as promessas passadas,

o fim da mamata.

porém

o filho indicado

à embaixada

naturalmente

por ser o filho

do presidente.

um país,

que numa analogia dolorida,

seria uma criança maltratada

por aquele que tem a guarda

enquanto outro,

quiçá inda pior,

a disputa

a partir

de um outro estado.

uma criança maltratada

que alguns enxergam

e alertam e alertaram;

e que outros ignoram

e ignoraram.

e que de tanto ignorarem,

se cegaram, quiçá,

para sempre.

ou até a vinda

de algum dito: salvador.

ou até a vinda

de algum dito: presidente.

um país

em que se tem que revirar o lixo

— como no poema O Bicho —

para encontrar algum alimento

que a desigualdade lhe negara.

um país

onde uma senhora estava

há dias sem comer

e que estava aguardando

o tempo de morrer,

quando dias antes,

o governo, gastara

15 milhões com leite condensado,

2,2 milhões com chicletes,

32,7 milhões com pizza e refrigerante,

etc.

e inda se encontra,

e se encontrará, quiçá

[pois de nada duvido],

aqueles que o apoiam

e/ou justificam

as suas ações.

um país que no meio de uma pandemia,

em que morrem pessoas,

seres humanos,

semelhantes,

dia após dia;

podem vir a pensar,

ou não,

se haverá,

ou não,

o carnaval.

posto que, segundo alguns,

é quando o país começa

a caminhar.

este é o meu Brasil;

este é o meu país desigual.

*

acima de tudo;

e por cima de todos...