APERTE O FREIO!

Somos frutos de uma cultura acelerada, de ritmo frenético, que nos estimula constantemente a apertar o pé no acelerador.

Aceleramos em busca de melhores condições de vida, do crescimento profissional, das conquistas materiais, de relacionamentos superficiais para satisfazer nosso ego, demonstrando ao mundo bem-estar e status social, mesmo que seja aparente. Buscamos uma “felicidade” que parece inalcançável e cada vez mais volátil.

O relógio tornou-se um vilão, ele personaliza o bem mais valioso, que tornou-se objeto de desejo de todos: “o controle do tempo”. Essa busca incessante impulsiona seres humanos a transformarem-se em avatares, que assumem corpos que não são seus, para sobreviverem numa atmosfera que não foi criada para si; saem da Terra para dominar a lua de Pandora, com armas inofensivas e sem chances de sucesso.

Na era do Instagram, a constante felicidade refletida nas poses e cliques podem gerar ansiedade, medo, depressão, chegando ao ápice no pânico. Uma inofensiva comparação da tão sonhada “vida perfeita” com a “realidade nua-e-crua” está tornando pessoas - das mais variadas idades e classes sociais - em homens e mulheres tristes, infelizes. Pare, olhe, escute!

Corre-se contra o tempo, o espaço, a vida... trava-se uma batalha com Deus numa corrida de alta velocidade, onde em nossa mera ilusão, pensamos que sairemos vencedores. Como um carro em movimento, queremos andar em 200/300 km/h, mesmo quando nossa estrutura não permita isso.

O sábio rei israelita foi feliz ao afirmar que: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu”(Eclesiastes 3.1). Não há registro mais sensato, porém, para compreender sua beleza e aplicação prática, é necessário desacelerar. Cada vez mais, precisamos cuidar de nossa saúde física, mental, espiritual, bem como da profundidade dos nossos relacionamentos. É tempo do autoconhecimento, de refletir, pontuar erros e acertos, mudar, planejar, executar, viver.

Lembremos de Jesus, que por inúmeras vezes exortou seus discípulos a desacelerar. Cristo, em sua jornada – mesmo em meio aos compromissos da missão - parou e jantou com pessoas queridas, ouviu e contou histórias com amor, orou nas circunstâncias mais improváveis, sorriu com crianças, caminhou num jardim, dormiu numa tempestade; Ele parou para poder prosseguir.

Para a sobrevivência desta geração que guerreou contra uma pandemia, não seria utopia desenvolver a disciplina da solitude, a virtude da contemplação e a coragem para poder parar, percebendo com alegria o caminho já traçado e projetando a estrada a seguir. Precisamos olhar ao redor, observando as sementes plantadas e os frutos colhidos.

Para que olhar os carros que andam mais rápido ou devagar, se trafegamos em ritmo único e caminhos distintos? Na estrada, diversos motoristas podem fazer uma viagem tranquila sob o sol, ao tempo que podem dirigir em meio à chuva - e com vidros embaçados - se deparar com um protesto, furar um pneu, bater em algum obstáculo... Inúmeras são as possibilidades de aprendizado e exercício de resiliência, seguindo o fluxo.

A chegada pode atrasar, mas não se pode perder o foco, e a fé, para alcançar a Terra Prometida. No caminho - em nossa própria velocidade e ritmo - temos a chance de nos maravilhar com a beleza única do arco-íris.

Para isso, APERTE O FREIO, desacelere, pare, observe e acelere novamente!

Robson Alves da Silva Costa

02/02/2021