A PRIMEIRA VEZ QUE VI UM MÉDICO

A PRIMEIRA VEZ QUE VI UM MÉDICO

Manoel Belarmino

Foi somente quando eu tinha os meus doze anos de idade que fui pela primeira vez ao médico. Nunca tinha visto um médico antes. Foi quando uma tosse forte me atingiu. Eu tossia muito o dia e a noite inteira. Uma agonia. Minha mãe tinha muito medo de virar "uma tosse braba". Aí ela resolveu me levar para um médico na cidade de Serra Negra, a cidade de Pedro Alexandre. O médico raramente aparecia na cidade. Somente uma vez a cada quinze dias parecia um médico naquele posto de saúde. Mesmo assim, minha mãe me levou para consultar o médico, pois já não aguentava mais me ver tossindo dia e noite.

Chegou o dia da consulta. Uma sexta feira, lembro-me como hoje. Muita gente doente para consultar o médico. Idosos, grávidas, crianças sambudas, assim como eu. Todos e todas ali esperando o médico chamar para a consulta. Muitas crianças morrendo de medo do médico e das injeções de agulhas grandes. E eu, que, no Boqueirão, corria desesperado caatinga a dentro com medo do jipe da vacina?! Imagine se o médico receitasse umas daquelas injeções com aquelas mesmas agulhas das vacinas? Era isso que me deixava preocupado. E eu que nunca havia visto um médico? E eu ali esperando a hora da minha primeira consulta a um médico.

Aí, de repente, chegou a minha vez de fazer a consulta. Minha mãe me levou. Sentado, na minha frente, estava um homem vestido de branco. Franzino. De cabelos grisalhos. Ajeitou "os picinês", e me perguntou o que eu estava sentindo. Era o médico. Fiquei calado, mas minha mãe respondeu rapidamente:

- Doutor, este menino tosse dia e noite sem parar.

Aí o médico não falou mais nada. Pegou um palito grande, parecido com esses palitos de picolé; pediu que eu abrisse bem a boca; e, apertando a minha língua, forçou para que ele pudesse ver a minha garganta. Veio logo à minha cabeça a imaginação que o médico quisesse ver, ou puxar pela minha boca, as lombrigas hospedadas na minha barriga. E continuou com o palito apertando, mais e mais, a minha língua. Minutos depois, e eu já tremendo de medo, ele disse:

- Vá pra casa com o menino. Mas vou receitar aqui alguma coisa...

Aí eu pensei:

- Estou lascado... Vou cair nas agulhas das injeções!

Mas o médico continuou dizendo:

- Basta ele gargarejar três vezes ao dia um copo grande de água com duas colheres de sal, dissolvida, bem misturada, todos os dias, durante 15 dias. Somente isso.

Imediatamente, minha mãe providenciou a água e o sal. Comecei naquele mesmo dia a fazer os gargarejos, conforme o médico receitou. No terceiro dia eu já não tossia mais.

Ainda hoje, raramente eu tenho tosse. Tenho gripe de vez em quando, tenho alergia, espirros, mas tosse não. E quando sinto que vou tossir, ou começar a tossir, rapidamente eu providencio água com sal para os gargarejos. E a tosse some.

Manoel Belarmino dos Santos
Enviado por Manoel Belarmino dos Santos em 03/02/2021
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