Fortaleza Antiga – “Estórias para rir e relaxar!”

Fortaleza Antiga – “Estórias para rir e relaxar!”

O efeito psicológico nas pessoas causado por uma guerra.

Para vocês se divertirem um pouco, eu vou lhes contar duas “estorinhas” acontecidas aqui em

Fortaleza, no Ceará. Como vocês sabem, a costa nordestina está toda voltada para o Oceano

Atlântico e que, durante a Segunda Guerra Mundial, estava cheia de submarinos alemães, os

terríveis “U-Boot”, que ficavam à espreita dos navios cargueiros que cruzavam o Atlântico Sul e

afundá-los. Essa “tática” de guerra dos alemães virou um terror para aqueles que navegavam

por essas bandas de cá do continente.

Vale lembrar que, em 22 de agosto de 1942, respondendo à pressão dos brasileiros e dos

próprios americanos, foi que o Presidente Getúlio Vargas fez o Brasil entrar em "estado de

beligerância" contra a Alemanha Nazista. No entanto, o envio de tropas da FEB a Europa,

demoraria dois anos para acontecer. O “batismo de fogo” das tropas brasileiras aconteceria

somente no dia 16 de setembro de 1944, quando o 6º Regimento de Infantaria efetuou o

primeiro disparo de canhão e iniciou a campanha brasileira na Itália.

Em fevereiro de 1942, submarinos alemães e italianos iniciaram os torpedeamentos de navios

brasileiros no oceano Atlântico. Getúlio Vargas era um forte simpatizante da Alemanha Nazista

e tinha uma nora de origem alemã, que era casada com o seu filho médico, Lutero Vargas.

Vejam que impasse! Entre os seus colaboradores diretos havia outro forte simpatizante dos

nazistas, que era a figura sinistra e maquiavélica de Filinto Müller (Chefe de Polícia do Distrito

Federal).

Um brasileiro na arte da tortura – Não é pra qualquer um, tem que ser um “profissa”.

Filinto Müller foi o responsável direto pela deportação de Olga Benário, que era a esposa do

líder comunista Luís Carlos Prestes. Olga Benário foi enviada para um campo de concentração

da Alemanha Nazista, vindo a morrer tempos depois. Seguem abaixo alguns dos métodos de

tortura praticados por Filinto Müller.

NOTA

Filinto Müller fez “mestrado e doutorado” e era um “profissa” na arte da tortura contra prisioneiros políticos,

fazendo com que a SS e a Gestapo fossem transformadas em “aprendizes” nos métodos atrozes praticados

por ele e seus asseclas. As atrocidades praticadas no Brasil, sob o comando de Filinto Müller e seus

assistentes, excederam em alguns pontos, às praticadas pelos alemães. Vejam algumas “amostras” e/ou

“modelos”, se é que podem ser chamadas assim:

- A polícia de Filinto Müller esmagava os testículos dos prisioneiros com uma espécie de alicate (tipo torquês)

que chamavam pelo diminuitivo de “anjinho”, uma corruptela do nome Higino, que era o nome do escrevente

de polícia que o inventou. - Em matéria de invenção, o brasileiro tem que ser “estudado” pela NASA.

- Sob os seus olhares, os seus policiais perfuravam os tímpanos dos ouvidos dos prisioneiros com arame ou

agulhas. - Até eu estou sentindo a dor. Imaginem.

- Outra prática comum era esta: eles enfiavam um arame na uretra dos presos, depois usavam um maçarico

para aquecer o arame até que este ficasse em brasa. - É mole?

- E mais outra é que enfiavam um ferro pontiagudo no ânus dos presos e depois ligavam o ferro na corrente

elétrica e, geralmente, o preso estava no “pau-de-arara”. Acho que todos vocês sabem o que significa “pau-dearara”. - Na época da ditadura militar foi muito utilizado.

- Já nas mulheres, além da humilhação moral pela qual passavam, estas tinham o bico dos seios queimados

por ponta de cigarros e o clitóris era atravessado por um arame em brasa. – É aonde o homem chega ao

seu nível mais baixo como criatura humana.

Comentários à parte

Às vezes torna-se difícil descrever até que ponto a maldade humana pode chegar. Saber o

limite entre a barbárie e o sadismo, a perversidade e o perverso, da crueldade e o indivíduo

que a pratica contra outro ser humano. Serão necessárias muitas reencarnações e sofrimentos

para remir tantos pecados. É aí que entra a bondade divina. Eu penso assim.

Pelo descrito acima, na arte de tortura, os brasileiros superavam os nazistas, visto que essas

atrocidades ocorreram entre as décadas de 30 e 40, antes do início da guerra e/ou em plena

guerra. Torna-se impossível saber quais eram os piores. Se por um lado, alguns nazistas foram

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levados ao tribunal internacional de Nuremberg, julgados, condenados e executados, no Brasil,

esses torturadores e criminosos permaneciam em seus cargos, alguns eram até promovidos

em seus postos, continuando assim, com uma vida nababesca. Não só a tortura e também a

impunidade, essas duas coisas, até hoje, continuam fazendo parte da nossa nefasta “cultura”.

David Nasser – “Falta alguém em Nuremberg”

David Nasser, em seu livro, refere-se à figura de Filinto Müller como um criminoso semelhante

aos nazistas, pois foi na cidade de Nuremberg (Alemanha), que em 1946, realizou-se o maior

dos julgamentos de guerra da história contra aqueles que praticaram crimes de guerra contra a

humanidade. David Nasser foi um compositor, escritor e jornalista brasileiro, autor do livro

intitulado: “Falta alguém em Nuremberg”, referindo-se às torturas praticadas pela polícia de

Filinto Strubling Müller. O sobrenome deve significar alguma coisa.

Guerra ao Eixo

A tomada de decisão em declarar guerra ao Eixo, esse ato se deu em represália à adesão do

Brasil aos compromissos da Carta do Atlântico, que previa o alinhamento automático com

qualquer nação do continente americano, que fosse atacada por uma potência extracontinental,

o que tornava sua neutralidade apenas teórica, pois na prática as coisas aconteciam da forma

bem diferente. Por conta dos navios brasileiros que foram afundados a situação agravou-se

para o Governo de Getúlio Vargas, que ficou insustentável.

Abaixo segue a lista dos navios que foram afundados somente na costa brasileira:

Submarino U-507

Local: Na divisa de Sergipe e Bahia

Baependi – 15/08/1942

Araraquara – 15/08/1942

Local: Na costa norte da Bahia

Aníbal Benévolo – 16/08/1942

Local: Sul de Salvador/BA

Itagiba – 17/08/1942

Arará – 17/08/1942

Local: Ao largo de Ilhéus/BA

Jacira – 19/08/1942

Submarino U-514

Local: Costa do Pará

Osório – 28/09/1942

Lajes – 28/09/1942

Submarino U-518

Local: A 60 km ao norte Salvador/BA

Brasilóide – 18/02/1943

Submarino italiano Barbarigo

Local: Ao largo de Porto Seguro/BA

Afonso Pena – 02/03/1943

Submarino U-513

Local: Ao largo de Iguape/SP

Tutoia – 01/07/1943

Submarino U-590

Local: Ao largo de Salinópolis/PA

Pelotas Loide – 04/07/1943

Submarino U-199

Local: Ao largo do Arraial do Cabo/RJ

Shangrilá – 22/07/1943

Submarino U-185

Local: Divisa de Sergipe e Bahia

Bagé – 31/07/1943

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Submarino U-161

Local: Litoral de Alagoas

Itapagé – 26/09/1943

Submarino U-170

Local: Litoral de São Pulo

Campos – 23/10/1943

Submarino U-861

Local: Ao largo do Farol de São Tomé/RJ

Vital de Oliveira – 19/07/1944

Quebra-quebra de 1942, em Fortaleza.

No dia 18 de agosto de 1942, durante o governo de Meneses Pimentel, no Ceará (já na era

Vargas), a cidade de Fortaleza foi palco de um acontecimento peculiar, o chamado “quebraquebra de 42”. O motivo do movimento foi o bombardeamento de seis navios brasileiros por

submarinos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.

A população, inconformada com tamanha afronta dos alemães, que irritada toma suas próprias

providências e sai às ruas para quebrar todos os estabelecimentos comerciais que tivessem

alguma ligação com os países que passara a considerar inimigos, que no caso, aqueles que

formavam o Eixo: Alemanha, Japão e Itália. Durante o “quebra-quebra”, o jornalista Thomaz

Pompeu Gomes de Matos registrou os acontecimentos e fez várias fotografias do movimento

popular.

Na época, o centro da cidade de Fortaleza era composto por muitos comerciantes estrangeiros,

que aqui se estabeleceram com as suas famílias, a fim de construir ou reconstruir as suas

vidas. Entre eles haviam: árabes, judeus, turcos, libaneses, alemães, italianos e gente de

várias outras nacionalidades, onde muitos eram refugiados de seus países de origem.

A população nativa não sabendo “quem era quem”, em consequência do desconhecimento dos

nomes estrangeiros, não pensou duas vezes. Saiu quebrando tudo, depredando, invadindo e

saqueando as lojas, quebrando vidraças, enfim, fazendo uma grande confusão geral nas ruas,

numa demonstração de insatisfação total. Tanto é fato, que Getúlio Vargas declarou o "estado

de beligerância" já em 22 de agosto, somente quatro dias depois de acontecido o evento.

A chegada dos americanos em Fortaleza

No ano em que os norte-americanos chegaram a Fortaleza, a Praia de Iracema transformou-se

num “reduto” deles. Havia a residência de uma família portuguesa, que ao ser deflagrada a

guerra, a casa dessa família viera a transformar-se na Vila Morena (o atual Estoril) e que foi

arrendada para as tropas americanas. O ano era 1943 e logo foi transformada num cassino

denominado U.S.O. - United State Office, o clube de veraneio dos soldados americanos.

Com esse acontecimento, o bairro ganhou visibilidade social com uma fase de “glamour” para a

Praia de Iracema. O clube, cujo acesso era quase exclusivo para estrangeiros, e que teve na

cidade grande repercussão. Tudo isso devido às suas noitadas que eram patrocinadas pelo

governo norte-americano, com danças, jogos e shows de célebres artistas de cinema. Logo

esse lugar virou um “atrativo” para as moças locais, que se dirigiam ao clube para namorar os

americanos e outras “coisas mais”. Muito bem! Continuando:

Nessa época a Praia de Iracema era muito ampla, e era chamada “a praia do peixe” que nela

moravam muitos pescadores, bem como, devido ao comércio de pescados, ali existente.

Apesar da presença maciça de americanos em Fortaleza, mesmo assim, havia um medo muito

grande da parte das pessoas nativas, caso aparecesse algum dos submarinos alemães. Isso

era apavorante para todos, à época.

A nossa primeira “estória”

Num trecho que fica localizado entre as praias da Volta da Jurema e o Mucuripe (quem já

conheceu o lugar sabe o que estou falando), os nativos ficavam a vigiar qualquer embarcação

suspeita que chamasse a atenção dos “vigias locais”. Nessa época, a praia era, extremamente,

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ampla e dava pra enxergar bem distante em mar aberto. Ainda não havia os espigões como

nos dias de hoje, portanto a visibilidade do mar era muito boa e de grande alcance.

Certo dia, ao amanhecer, com o mar calmo e o céu limpo, algo estranho foi visto próximo da

praia, cerca de uns 500 metros, mar adentro. Era uma grande mancha escura com um “cano”

exposto pra fora d’água, parecendo-se com o periscópio de um submarino (nunca se soube ao

certo o que era) e fez com que o “alarme” (gritos) soasse. Daí formou-se uma algazarra geral

que chegou aos ouvidos dos americanos que estavam no clube.

Diante do pânico geral da população, os americanos que ainda estavam na “farra” resolveram

sair para saber o que estava acontecendo, ali na praia. Sem compreender o idioma inglês, os

nativos ficavam gesticulando, fazendo acenos e apontando para dentro do mar, no intuito de

chamar a atenção dos americanos. Alguns americanos, com dificuldade, já “entendiam” alguma

coisa da linguagem local, portanto, esse detalhe fez com que eles se dirigissem para o local a

fim de averiguar o acontecimento.

Pelo sim ou pelo não, alguns americanos já saíram do clube armados com fuzil e, aos berros,

entenderam que estavam sendo atacados por submarinos inimigos. Imaginem. Aí foi uma

confusão geral. Alguns ainda bêbados e outros com ressaca, em consequência da farra da

noite anterior, não pensaram duas vezes. E o que aconteceu?

Quando chegaram ao local, e não vendo nada, mesmo assim, saíram correndo pela praia e

ficaram atirando a esmo para dentro do mar, sem saber realmente o que era. Aí ficou a dúvida!

Atiraram em quê? Até hoje não se sabe a verdade.

Moral da história

O que o psicológico pode fazer numa situação de medo e pavor a uma população?!

Esse acontecimento ficou registrado nos anais do folclore da cidade e, até hoje, não se sabe o

que realmente aconteceu naquele dia, lá naquela praia.

A nossa segunda “estória”

Novamente o palco da nossa segunda “estória” foi o Mucuripe, que na época era uma vila de

pescadores. O Mucuripe, apesar de estar situado na orla marítima, no período da Segunda

Guerra Mundial era uma comunidade muito pobre. Nesse bairro, em 1942, foi onde o cineasta

Orson Wells fez o seu “It’s all true” (É tudo verdade). Um filme inacabado que retratava a saga

e a valentia dos pescadores cearenses. Nesse filme Orson Wells descreve a aventura de

quatro pescadores que viajaram de jangada para o Rio de Janeiro, a fim de buscar os seus

direitos sociais e falar com o Presidente da República, que era Getúlio Vargas.

Jacaré e a jangada São Pedro

Manuel Olímpio Meira vivia na pobre comunidade da Praia do Peixe, mais conhecida hoje

como praia de Iracema, próximo à praia do Mucuripe, em Fortaleza. Ele nasceu em 1903, no

Rio Grande do Norte e mudou-se para o Ceará, fixando-se na Praia do Peixe. Ele foi, e sempre

será relacionado ao Ceará, onde teve início a saga de “Jacaré” e a jangada São Pedro.

Mas essa não é a nossa “estória”, citei apenas para lembrar a época e para que se tenha ideia

do local e quando aconteceu o fato. Muito bem, e continuando.

Um fato já ocorrido

Diante do ocorrido em que os americanos atiraram num “submarino” que nunca se provou a

sua existência, o governo resolveu adotar medidas de segurança nos locais próximo á costa

cearense. Fortaleza, à época, era uma cidade muito provinciana e com as populações dos

bairros afastados (nesse tempo não existia a periferia), que eram de uma pobreza sem igual.

E o Mucuripe era um desses pobres bairros: sem iluminação pública e residencial (a iluminação

residencial era na base da lamparina a querosene), sem vias de acesso (as ruas eram todas de

areia), posto de saúde (só havia o patronato que era administrado por freiras), acrescentando a

isso tudo, muita miséria e prostituição. Era esse o quadro cruel e verdadeiro.

Após o primeiro acontecimento, o que provocou o pânico na praia, o governo resolveu preparar

a população para enfrentar uma emergência, caso essa viesse acontecer. A população seria

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informada, que a partir de determinada data, as pessoas iriam receber avisos constantemente,

como se fora um treinamento, preparando-as para uma situação de emergência. E assim foi.

À noite, todas as luzes deveriam ser apagadas e os movimentos noturnos, que já eram poucos,

deveriam cessar. Barulhos noturnos não deveriam mais existir. Enfim, era uma reclusão total.

Essas medidas preventivas, que soavam como um treinamento e de preparo psicológico para

uma eventualidade, seguiram-se por muitos dias. Mas, até que enfim, iria chegar o dia em que

esse treinamento seria posto em prática pela população, ou seja, iria ser criada uma situação

de “realidade” para testar o preparo psicológico do povo. Sem avisar, todos foram dormir como

num dia normal. Lá pela madrugada, uma sirene de alarme soou e alguns fogos de artifício

foram “explodidos”, em simulação de tiro real, como se fossem armas de fogo ou artilharia.

Ao ouvir os estrondos, a população toda acordou no meio da madrugada, achando que era de

verdade e foi criado um pânico, que se tornou generalizado. Era gente correndo, a maioria com

a roupa de dormir, menino chorando, gente rezando porque o lugar estava sendo invadido

pelos “gringos que matavam gente”, foi um desespero total. Imaginem a situação.

Passado o momento do alvoroço, soou um aviso que aquele evento não era de verdade, mas

sim, tudo não passava de um teste a fim de observar a eficácia do treinamento e a reação da

população. Isso foi feito em toda cidade, que ainda era pequena e despovoada.

Logo pela manhã e com a população já refeita do susto, veio o resultado do teste. Somente no

Mucuripe morreram do coração, dois idosos, tamanho foi o medo. Em outros bairros, pessoas

foram parar na Assistência Municipal (atual Instituto Dr. José Frota), pois era o único hospital

de referência, à época. Isso sem contar com aqueles que ficaram em suas casas passando

mal. Esse foi o “resultado contábil” da experiência. Daí o governo desistiu do treinamento.

NOTA

Todo estrangeiro (independente da nacionalidade) que chegasse aqui no Ceará, que fosse louro, alto, de olhos

azuis e bonitos, todos eram chamados “gringos”, indistintamente. No texto referiam-se aos alemães, pois eles

matavam todos aqueles que consideravam inferiores. Imaginem se eles tivessem chegado aqui! Iam fazer uma

verdadeira carnificina com os nativos daqui.

Moral da história

O que o psicológico pode fazer, numa situação de medo e pavor, a uma população que está

desprotegida, sem instrução nenhuma e em tempo de guerra? Imaginem numa situação real,

como seria? Seguindo adiante.

A “ocupação” norte-americana

Em consequência da “ocupação” norte-americana em Fortaleza, duas bases militares (Pici e

Alto da Balança) foram construídas e em Fortaleza transitaram cerca de 50 mil soldados norteamericanos. Nesse período ficaram por várias semanas ou até meses dependendo de urgência

da convocação. Promoveram uma total “ocupação” de Fortaleza durante os anos subsequentes

da guerra até o seu término em 1945.

Nesse período em que ficavam nos quartéis dividiam o seu tempo entre os exercícios militares

e seus divertimentos. Eram promovidas pelos americanos, atividades esportivas nas quadras

situadas nas bases onde a população local poderia comparecer, exibição de filmes ao ar livre,

promoção de festas dançantes nos clubes da cidade. Dessa forma, a implantação dessas

bases, mesmo situadas nas adjacências da cidade, trouxe um contato direto com a cultura

norte-americana.

A outra face de uma guerra de verdade

A Segunda Guerra Mundial foi um conflito de natureza genocida, onde a crueldade atingiu o

seu ápice. Segundo o Hitler, o Terceiro Reich foi criado para durar mil anos, mas durou pouco

menos de 12 anos. Mas a sua história ficará indelével na memória da humanidade por, pelo

menos, mil anos. Que as suas lembranças, embora sejam sinistras e desumanas, mas que não

sejam apagadas da história e nem das memórias daqueles que sobreviveram ao conflito, a fim

de que isso não se repita. NUNCA MAIS. O mesmo vale para os que se achavam do lado certo

do conflito, e que para encurtá-lo, explodiram duas bombas atômicas que destruíram vidas

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inocentes, apenas porque eles estavam no lado, que era considerado o errado. O julgamento é

válido para ambas os lados, já que fazem parte da mesma história. Então, vamos lá.

Agora vou citar dois casos reais acontecidos na mesma guerra, ambos em 1941. O primeiro na

Rússia e o segundo na Letônia, ambas as regiões ocupadas, quando os alemães estavam no

auge da guerra e dominando tudo. Agora, vocês leitores, vão tomar conhecimento do que é na

realidade uma guerra de verdade.

“A primeira realidade”

O Massacre de Baby Yar, na Ucrânia (Rússia).

Agora vamos à realidade. Na mesma guerra, isso aconteceu em Kiev, capital da Ucrânia (na

Rússia) em 1941, precisamente, nos dias 29 e 30 do mês de setembro. Esse acontecimento

ficou registrado como sendo um dos mais cruéis massacres já realizado contra uma população

civil desprotegida e desarmada. Este assassinato em massa está registrado nos anais da

história da humanidade, como sendo atos de completo barbarismo, insanidade, crueldade e

sanguinário que o um povo pode praticar contra o outro, considerado de raça inferior.

Então, vamos lá.

Em 28 de setembro de 1941, um aviso foi afixado nos postes e muros da capital Kiev, dirigido a

todos judeus. No aviso estava escrito o seguinte:

“Ordena-se a todos os judeus residentes de Kiev e suas vizinhanças que compareçam à esquina

das ruas Melnyk e Dokterivsky, às 8 horas da manhã de segunda feira, 29 de setembro de 1941

portando documentos, dinheiro, roupas de baixo, etc. Aqueles que não comparecerem, eles serão

fuzilados. Aqueles que entrarem nas casas evacuadas por judeus e roubarem pertences destas

casas também serão fuzilados.”

No início da madrugada do dia 29 e estendendo-se até o dia 30 de setembro de 1941, em Kiev,

capital da Ucrânia, 33.771 civis ucranianos (judeus) foram retirados das suas casas, apenas

conduzindo o que pudesse levar em mãos, incluindo velhos e crianças, sem distinção.

Os judeus foram levados a uma ravina denominada Baby Yar, onde esperavam que fossem ser

embarcados em trens para algum campo situado na Polônia, como eles costumavam fazer.

A multidão era composta de homens, mulheres e crianças, grande o bastante para que não se

suspeitasse da verdadeira intenção dos alemães. Era necessário que houvesse tranquilidade,

pois ninguém deveria tomar conhecimento do que estava para acontecer, a não ser quando se

iniciasse a operação. Aí já seria tarde demais e não podiam mais fugir.

O fuzilamento em massa

Já reunidos, todos os judeus (homens, mulheres e crianças) foram despidos e colocados em

fila dupla. As crianças que não podiam andar, estas ficavam agarradas nos braços das mães.

Ao iniciar-se a operação, todos tinham que passar correndo por dentro de um corredor formado

por soldados, que aos berros, ordenavam que as pessoas formassem em grupos de dez e que,

em seguida, eram fuzilados. Ao escutarem o barulho das metralhadoras (MG-42) do grupo logo

à frente, os de trás não tinham mais como correr pra escapar.

Ao chegarem à ravina havia uma grande vala, que fora cavada com antecedência, e nela, os

judeus depois de fuzilados, eram dispostos uns sobre os outros e, em seguida, lhes eram

dados “tiros de misericórdia” na cabeça. O massacre foi realizado em dois dias, a cargo

do “Einsatzgruppen C”, o esquadrão da morte das SS. Eram apoiados por membros de um

batalhão das Waffen-SS, juntamente com as unidades da polícia ucraniana, que também

seriam usadas para agrupar e conduzir os judeus até o local de fuzilamento.

O mentor e comandante do massacre

Os executores desse massacre pertenciam ao 6º Exército, sob o comando do marechal de

campo Walter von Reichenau, que colaborou com as SS e as SD no planejamento e execução

dos judeus de Kiev. Após o massacre, muitos dos que participaram de forma direta ou indireta,

no decorrer da guerra, suicidaram-se ou enlouqueceram. As suas famílias, ao saber acerca do

acontecido, os abandonaram.

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Nos meses subsequentes, milhares de outros judeus e não judeus russos foram capturados,

trazidos à ravina e fuzilados, num total de cerca de 100.000 mortos. Muitos dos judeus que

foram mortos estavam longe das zonas de ocupação da cidade de Kiev, de onde fugiram 100

mil deles, porém foram recapturados e fuzilados. Antes da guerra a cidade de Babi Yar tinha 60

mil judeus. Na Frente Oriental, era uma prática comum contra os judeus e a população civil.

Acompanhando os exércitos regulares, os grupos de ação (Einsatzgruppen) estavam juntos e

praticavam todos os tipos de atrocidades e assassinatos contra os judeus, população civil e os

lideres locais, bem como aqueles que se opusessem à presença alemã em território russo.

Uma prática comum dos grupos de extermínio era de reunir pessoas em celeiros e queimá-las

vivas com um lança-chamas. Eram as ordens do comandante das SS, que era a encarnação

do mal, o Reichsführer-SS Heinrich Himmler.

Em janeiro de 1942, durante os combates de inverno da frente russa, o marechal Walter von

Reichenau, responsável pelo massacre de Baby Yar, sofreu um derrame e foi removido para a

Alemanha para tratamento, mas nunca chegou ao destino. Sua morte tem duas versões: a de

que teria morrido na queda do avião em solo russo ou que o avião teria feito apenas um pouso

de emergência e ele morrido de um ataque cardíaco em consequência da ocorrência.

NOTA

É importante salientar que nem todos os oficiais militares de carreira que compunham as forças militares

alemães (Wehrmacht, Luftwaffe e Kriegsmarine) eram nazistas. Somente alguns eram do Partido Nazista, a

exemplo, desse que comandou o massacre de Baby Yar, que seguia as “doutrinas” do Führer Adolf Hitler.

“A segunda realidade”

O Massacre de Rumbula – Riga (Letônia)

Após o massacre de Babi Yar, na Ucrânia, em setembro de 1941, aconteceu outra atrocidade.

Desta vez aconteceu na cidade de Riga, na Letônia (uma das Repúblicas do Báltico). Este foi

outro grande massacre praticado contra os judeus, antes do início das operações sistemáticas

de assassinatos em massa nos campos de concentração e extermínio, a chamada “Solução

Final” (Endlösung). As matanças realizadas através de tiros de metralhadoras, fuzis ou pistolas,

estas afetavam profundamente o “moral” das tropas.

NOTA

Vale lembrar que a Solução Final (Endlösung der Judenfrage) foi decidida durante a Conferência de Wannsee,

realizada na vila de Wannsee, localizada a sudoeste de Berlim, no dia 20 de janeiro de 1942, sob o comando de

Reinhard Tristan Eugen Heydrich. Ele tinha a patente de “SS-Obergruppenführer und General der Polizei” tal

como chefe do Reichssicherheitshauptamt (RSHA).

O Massacre de Rumbula foi o assassinato em massa de 25.000 judeus ocorrido nos dias 30 de

novembro e 8 de dezembro de 1941 na floresta de Rumbula, próximo a Riga, Letônia. À parte,

apenas o massacre de Babi Yar na Ucrânia, esta foi a maior atrocidade do Holocausto até o

início das operações em campos de extermínio.

Aproximadamente 24.000 vítimas eram judeus letões do gueto de Riga, enquanto 1.000 eram

judeus alemães transportados de trem para a floresta. O Massacre de Rumbula foi conduzido

pelo “Einsatzgruppen A”, com o auxílio de colaboradores locais do Comando Arajs e apoio de

outros grupos, como os ajudantes letões.

Os responsáveis diretos pelo massacre foram: Friedrich Jeckeln, Rudolf Lange, Roberts

Osis, Eduard Strauch. No comando da operação estava o SS-und Polizeiführer Friedrich

Jeckeln, que supervisionara massacres anteriores na Ucrânia. Rudolf Lange, que participaria

mais tarde da Conferência de Wannsee, este também tomou parte na organização da matança.

Outra figura sinistra que não pode ser esquecida é Herberts Cukurs, que após a guerra fugiu

para o Brasil, onde viveu tranquilamente até 1965. Posteriormente, supõe-se que tenha sido

persuadido por um agente do Mossad a viajar para Montevideo, no Uruguai, onde haveria uma

grande oportunidade de negócios no ramo aeronáutico.

Na realidade, pelo que se sabe isso teria sido uma armadilha dos judeus israelenses para

pegá-lo. Supostamente, teria sido atraído para um determinado local e executado por esse

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grupo. O seu corpo ficou escondido dentro de uma mala, sendo que, somente duas semanas

depois é que teria sido encontrado.

O local da matança

Na Letônia é conhecido simplesmente como Rumbula. O nome é derivado de uma pequena

estação ferroviária sobre a linha Rîga Daugavpils, no décimo segundo quilômetro a partir de

Rîga, onde os comboios locais utilizavam para parar. O local da matança foi acerca de uns dez

quilômetros, a partir do portão do gueto, a 250 metros da estação, tão perto que os tiros davam

para ser ouvidos pelos moradores locais e, para pessoas postadas em locais mais altos, dava

pra ver à distância ou das janelas das casas.

O terreno era arenoso e desnivelado, então cavar buracos era fácil. Situado na margem norte

do Rio Daugava, o local da matança estava situado em uma estreita faixa de terra entre os

trilhos e uma importante rodovia que ligava Rîga com Daugavpils. Para o leste e ao norte do

campo de abate estava um campo de treinamento do exército da Letônia, que antigamente era

usado pelo Exército Czarista para a prática de fuzilamentos de prisioneiros.

Neste vasto e desabitado território, constituído de parte de florestas, pântanos, onde ao lado

era uma parte arenosa cobrindo o solo, e lá, as unidades de infantaria treinavam no verão.

A floresta próxima a Rumbula era denominada Vārnu mežs (no idioma letão), mais conhecida

como Floresta dos Corvos (para alguns letões), antes da realização da matança.

O massacre de Rumbula, juntamente com muitos outros, formou a base do Processo contra os

grupos de extermínio das SS (Einsatzgruppen), cujo julgamento realizado após a Segunda

Guerra Mundial, resultou na condenação à morte dos comandantes dos Einsatzgruppen por

crimes contra a humanidade. Centenas deles, todos ou quase todos, foram enforcados e,

aqueles que não foram, suicidaram-se ou fugiram para a América do Sul, lugar que viera a se

tornar o refúgio dos criminosos de guerra nazistas. Dentre esses países, destacam-se: Brasil,

Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai, seguindo a chamada “Rota dos Ratos” que partia de

Gênova, na Itália até a América do Sul.

Reflexão

O título desse trabalho pode parecer jocoso, porém o que a autora quis mostrar é o que se

pode presenciar nas duas faces de uma guerra. De um lado, pode parecer uma piada contada

em terreiro ou numa mesa de bar e, de outro lado, conhecer a realidade da guerra real, cruel e

presente na vida de uma população indefesa. Em qualquer guerra só existem dois tipos de

pessoas: aquelas que já estão mortas e as que irão morrer. Não existem vencidos e nem

vencedores. O legado de uma de uma guerra é constituído de vítimas e consequências.

Epílogo da Tragédia

“Não ignore o passado para que esse não se repita no futuro, pois poderá vir a assemelhar-se

como consequência de um presente mal vivido”.

“QUE REINE A PAZ ENTRE OS POVOS E AS NAÇÕES. GUERRAS NUNCA MAIS”

ALEMANHA

ES GIBT FRIEDEN ZWISCHEN MENSCHEN UND NATIONEN. KRIEGE NIE WIEDER

ITÁLIA

C'È PACE TRA PERSONE E NAZIONI. GUERRE MAI PIU '

AS MAIORES VÍTIMAS

JUDEUS

עשויה שלום בין אנשים

ובין לאומים. מלחמה

לעולם לא שוב

POLÔNIA

MOŻE POKÓJ MIĘDZY LUDŹMI I NARODAMI. WOJNY NIGDY WIĘCEJ

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TCHECOSLOVÁQUIA

MŮŽE POKOJ MEZI LIDMI A NÁRODY. VÁLKY NIKDY ZNOVU

RÚSSIA

МОЖЕТ МИРА МЕЖДУ НАРОДАМИ И НАРОДАМИ. ВОЙНЫ НИКОГДА СНОВА

(MOZHET MIRA MEZHDU NARODAMI I NARODAMI. VOYNY NIKOGDA SNOVA)

UCRÂNIA

МОЖЕ МИР МІЖ НАРОДОМ І НАЦІЯМИ. ВІЙНИ НІКОЛИ НЕ ЗНО

(MOZHE MYR MIZH NARODOM I NATSIYAMY. VIYNY NIKOLY NE ZNO)

BIELORÚSSIA

МОЖА ПАМІРАЦЬ паміж людзьмі і нацыямі. ВОЙНЫ НІКОЛІ НЕ ЗНАЎ

(MOŽA PAMIRAĆ pamiž liudźmi i nacyjami. VOJNY NIKOLI NIE ZNAŬ)

FRANÇA

LA PAIX ENTRE LES PEUPLES ET LES NATIONS. LES GUERRES PLUS JAMAIS

INGLATERRA

THERE IS PEACE BETWEEN PEOPLE AND NATIONS. WARS NEVER AGAIN

DINAMARCA

DER ER FRED MELLEM FOLK OG NATIONER. KRIGER ALDRIG IGEN

HOLANDA

ER IS VREDE TUSSEN MENSEN EN NATIES. OORLOGEN NOOIT MEER

NORUEGA

DET ER FRED MELLOM FOLK OG NATIONER. KRIGER ALDRI IGJEN

ESTÔNIA

Inimeste ja rahvuste vahel on rahu. SÕJAD EI KUNAGI JÄLLE

LITUÂNIA

TAIKYMAS TARP ŽMONIŲ IR TAUTŲ. KARAS NIEKADA NEBEKART

LETÔNIA

CILVĒKU UN TAUTU STARP MIERS. KARA NEKAD NEKAD NEKAD

AUTORA

PATRÍCIA EUGÊNIA UCHOA

03/02/2021

José Bernardo e PATRICIA EUGENIA
Enviado por José Bernardo em 03/02/2021
Código do texto: T7175679
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