Quem sou eu, perguntei ao espelho

Não é a primeira vez que me faço essa pergunta e com certeza não vai ser a última.

Eu fui alguém pra alguém. Meu nome é sabido. Alguém me viu. Assim como eu vi a outros, em seus momentos, pude admirá-los e conhece-los, naqueles momentos. Fui testemunha de uma fase de suas vidas, de uns meses, semanas ou dias de suas vidas. Fui testemunha. Assim como eles foram minhas testemunhas, de um momento meu. Momentos que não voltam. Acho que o verdadeiro motivos de não sermos um, únicos e sozinhos é pra garantir a existência. Como posso provar minha existência sozinha? Sim, é verdade que você é a única testemunha de todos os seus momentos vividos, pensamentos, emoções, dores, choros, alegrias, subidas e descidas e caídas de bicicleta no chão feito uma manga madura. Mas como provar que não sou o sonho ou a imaginação de alguém? Como provar que sou real? É preciso outrem pra legitimar minha existência, ou pra confirmar que, se esse outrem também pertence ao mesmo sonho no qual eu vivo, pelo menos, existimos numa mesma realidade. Tem de existir um pensamento além do meu que me pensa, me vê e testemunha a minha existência.

Cada ''saudades'' ou vocativos usando o meu nome, é um lembrete de que foi real, que a minha vida foi testemunhada, e, assim, já não me sinto mais tão sozinha.

Ninguém, ninguém, repito, ninguém é autossuficiente! Precisamos de amar alguém e precisamos ser amados. Precisamos testemunhar a vida de outrem e precisamos ter testemunhas das nossas vidas. O destino é a solidão. Só nos teremos no fim da vida, e nos banhos quentes, nos momentos no banheiro, nas caminhadas e idas ao trabalho. Seremos só, a cada ano que se passa, mais sós e mais distantes dos nossos telespectadores, das nossas testemunhas, cada vez menos íntimas.

Que espectadores você quer na sua plateia?

Respondendo a pergunta: eu sou o conjunto de memórias que colecionam de mim, assim como eu sou a coleção de memórias que eu coleciono de mim mesma. Isso é quem sou, é quem fui e é quem continuarei sendo. Esse registro meu e de outros, talvez visual, talvez auditivo ou, até, olfativo, mas sempre subjetivo. Somos o subjetivismo do outro e o nosso. Enfim, somos sujeitos. [a tudo

porque vivemos no nosso e em outros pensamentos]

Mari Verona
Enviado por Mari Verona em 04/02/2021
Reeditado em 04/02/2021
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