PROBLEMA COM O Ç

Sabemos que a escolarização não é o forte da população brasileira.

Também é muito fácil encontrar alguém que nunca passou pelos bancos escolares. Claro, existem aqueles que passaram pela escola, não só pela sua frente ou pelo lado, mas aqueles que alguma vez na vida estiveram aquecendo os fundilhos nos bancos dalgum liceu.

Como num silogismo este raciocínio aplica-se aos políticos: alguns brasileiros não frequentaram escolas; como os políticos são brasileiros, logo alguns políticos não frequentaram a escola.

Entretanto o episódio que agora vou contar não se refere a políticos analfabetos....nem a analfabetos políticos como diria o Bertold Brech.

Quero contar o caso de um conhecido meu prefeito da cidade vizinha.

Meu amigo, prefeito em terceira gestão, levava a prefeitura e suas despesas na ponta da caneta. Com ele não tinha aquilo de secretário ou assessor desviar dinheiro. Ele mesmo controlava os gastos. Alguém precisava comprar alguma coisa? Passava, antes pela inspeção do meu amigo, o prefeito.

Diariamente ele entregava uma lista de compras para que a secretária pessoal providenciasse (Vocês não queriam que ele saísse por aí pelas ruas com uma lista na mão, fazendo as compras, não é mesmo? Apenas controlava os gastos... e fazia as listas de compras! Quem saía às compras era sua secretária pessoal. Muito bem apessoada, por sinal!)

O fato é que naquela tarde meu amigo chamou a secretária.

- Providencie estas compras! Esses clipes tem que vir logo por que o pessoal da educação precisa disso ainda hoje! O grampeador, também, mas tem que ser daqueles grandes, de metal. Esses de plástico estragam logo. Não podemos gastar à toa o dinheiro dos contribuintes!

Sem dizer mais uma palavra, a moça saiu. Chamou o garoto da guarda-mirim, que dava plantão na prefeitura e que fazia o papel de contínuo ou sei lá o quê, mas ficava por lá.

Enquanto esperava o garoto, que estava no banheiro, passou os olhos pela lista: duas caixas de papel, cinco quilos de café, um fardo de açúcar, cinquenta copos descartáveis, cinquenta copos descartáveis....

- “Será que o prefeito errou alguma coisa aqui?”, interrogou-se a jovem.

Sem hesitar e por ser eficiente, bateu à porta e entrou na sala do prefeito.

- Prefeito, o senhor marcou duas vezes cinquenta copos descartáveis...

- Ah!, isso minha filha! É por que não lembrava se 100 era escrito com S ou Ç...

- Ah!, Certo! Agora, aqui mais uma dúvida: o senhor marcou quatro pacotes de cal. É para pintura ou cal virgem?

- Como vou saber da vida sexual desse povo, minha filha... Mas espera aí, não marquei para comprar “cal”...deixa ver ...

- Olha aqui, quatro pacotes de cal...

- Não, minha filha! É que eu esqueci de colocar a cedilha... É que a moça da cozinha gosta de fazer aqueles bolinhos acabou o tempero...

- Entendi! O senhor quer quatro pacotes de sal...

Neri de Paula Carneiro

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