XXXVIII - A Estante de Livros do Hemingway

Aventuras da Mochileira Tupiniquim...

A Estante de Livros do Hemingway

Ana Esther

Sensação surreal. Páscoa de 1990 e a Mochileira Tupiniquim aterrissava em terras cubanas. Tanto auê histórico-político envolvendo a bela ilha caribenha e lá estava ela para conferir seus atrativos. Diante de tantas polêmicas sufocando aquele ponto do Atlântico, parecia (mais) um conto de fadas que ela estava vivenciando.

Fascinada por literatura, a Mochileira vibrou de arrepiar os cabelinhos dos braços quando combinou com alguns companheiros de viagem, uma visita à casa do escritor norte-americano Ernest Hemingway! Dividiram um táxi exclusivo para turistas, que cobrava em dólar americano e não em peso cubano, e lá se tocaram para os arredores de Havana até a casa que virara museu.

A visitação do museu deveria obrigatoriamente ser feita com o acompanhamento de um guia a eles destinado com a compra do ingresso. Estavam em quatro, um casal e uma moça que ela conhecera no voo charter Brasil-Cuba. A visita iniciou pelos jardins da propriedade de Vigía, adquirida em 1939 por Hemingway que a frequentou até poucos anos antes de se suicidar em 1961... No jardim, eles perceberam quatro túmulos que o guia explicou serem dos cachorros do escritor: Black, Negrita, Linda e Neron.

Passaram então para dentro da enorme casa. Não poderiam tirar fotografias, verdadeira lástima. Que sensação entrar na casa onde viveu o autor de O Velho e o Mar... a Mochileira Tupiniquim adentrando o aconchego do lar de um Prêmio Nobel de Literatura!!! Eram livros e mais livros, fotografias, armas, troféus variados, cabeças de animais caçados empalhadas e penduradas às paredes como insistente lembrança de suas aventuras selvagens... Toda a mobília original e objetos pessoais do escritor permaneciam lá disponíveis aos olhares curiosos de fãs do americano que celebrou Cuba em histórias memoráveis.

Faceirice enorme sentir-se naquela atmosfera inspiradora. Contudo, a Mochileira Tupiniquim ficou fascinada por algo que para muitos passou quase despercebido... Ao visitarem o enorme banheiro, lá estava ela! Uma surpreendente minibiblioteca, em forma de estante, e cheia de livros! Rindo muito, a Mochileira imediatamente se inspirou e jurou de pés juntos que faria o mesmo tão logo retornasse para sua casa. Teria a sua própria Estante de Livros do Hemingway em seu próprio banheiro!

Após aquele vislumbre arrebatador gerado pelo banheiro sem par do Hemingway, ela parecia mais flutuar do que andar com os pés no chão, sua mente já montava a estante e escolhia os livros pra sua minibiblioteca de banheiro. Será que um dia o Ernest Hemingway, tomando um delicioso coquetel Mojito em La Bodeguita, um agradável restaurante próximo à Catedral histórica, que o acolheu em Havana (e que também acolheu a Mochileira deslumbradona), teria imaginação criativa o suficiente para supor que tanto tempo após sua morte, uma viajante brasileira, leitora de sua obra, o imitaria (plágio?) em algo tão esdrúxulo?

Sem obter esta resposta, a Mochileira Tupiniquim seguiu encantada a sua viagem por aquela ilha esplendorosa, o que levaria o leitor a várias outras histórias... A magia cubana permanece nas lembranças e no coração da Mochileira. Já a Estante de Livros do Hemingway foi “fundada” em seu banheiro e por lá ficou por muitos anos. Até que um dia ela achou melhor desmontá-la para diminuir seu tempo no banheiro! Porém, hoje, pensando melhor... por que não reinaugurar a minibliblioteca em seu banheiro atual? Sim! Adeus, leitores, lá vai a Mochileira Tupiniquim montar novamente uma estratégica Estante de Livros do Hemingway...