Solidão

Se há algo que eu não sou é comum. Sou fora do padrão e não quero me encaixar. A vida é muito efêmera para eu perder meu tempo tentando ser mais uma. Mas, apenas aqui, enquanto escrevo os meus pensamentos mais íntimos no papel, eu posso ser esse alguém que é verdadeiramente livre. Porque se tem algo que eu aprendi é que nada nos une mais que a solidão. Somos lobos solitários. Vivemos vidas comuns esperando que algo extraordinário ocorra, mas não nos movemos na direção contrária para a fresta de alegria singular.

O que nos torna comum é a errância. Em nossa solidão, em nossa conformidade, aprendemos que não podemos ficar parado. Sempre em movimento. Porém, em uma linha linear para alcançar aquilo que se espera. Ir em frente, ir em busca, ir atrás, ir longe, ir para onde? Não sei ao certo. Acho que ninguém sabe para onde ir. Só vamos. Somos obrigados a caminhar, mas ninguém nos aponta um caminho seguro.

Eu, você e todos nós estamos à procura de algo que ainda não experimentamos, algo que nos preencherá, que nos trará felicidade – mesmo que momentânea. Eu, você e todos nós tentamos salvar as nossas vidas diariamente e que melhor maneira do que se render aos padrões? Talvez seja tarde demais para nos salvar, mas tentamos. Trabalhar e amar, penso eu, seja as opções mais usadas, mas nem por isso fáceis. Os que conseguem se realizar através do trabalho e do amor são os bem-aventurados. Contudo, nem todos conseguem e tentam as maneiras mais estapafúrdias e por vezes perigosas. Quanto a mim, sei que não consigo me livrar da minha solidão. É intrínseca a mim. Mas extraio dela tudo o que sou ao escrever.

Eu, você e todos nós somos crianças das mais diversas idades, criando mil e um maquinações para ser feliz e esquecer que somos sozinhos.

Ansiamos por carinho, por toque, por amor verdadeiro. Queremos conforto, estabilidade, casa própria e carro do ano. Fingimos que somos o máximo, mas somos uns covardes que questionam se escolheram certo. Depositamos todas as nossas fichas em se encaixar em padrão que não oferece a felicidade verdadeira. Buscamos pessoas que sejam sinceras e aceitam dividir esse fardo que é a vida. Disfarçamos nosso abandono com frases motivacionais e sem verdade alguma. O que ansiamos mesmo é que alguém aceite segurar nossa mão e não larga mais.

Eu, você e todos nós queremos intimidade, mas evitamos contatos muito íntimos. Queremos conexão, mas odiamos perder o controle da situação. Não queremos nos machucar, mas usamos sapatos que não servem e só machucam. A gente quer e não quer, ao mesmo tempo. Somos confusos, mas morremos negando. Será que enquanto estamos errantes em nossa caminhada é possível encontra uma paixão, uma descoberta? O quão longe devemos ir, quanto tempo esperar, em que momento a vida vai trazer o que for verdadeiro? Como ter sensibilidade para esperar que o nosso maior sonho ainda vai se realizar? O nosso maior desejo mais secreto quase sempre é secreto até para nós mesmos.

Eu, você e todos nós somos uns idiotas.

Somos uma turma grande, somos uns camaradas dramáticos, somos uma gigantesca irmandade de solitários, eu, você, todos nós.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 18/02/2021
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