A PESCA DE ARPÃO E ZAGAIA NA AMAZÔNIA

A PESCA DE ARPÃO E ZAGAIA NA AMAZÔNIA

Pescaria na Amazônia

Autor: Moyses Laredo

Zagaia é esse tridente artesanal de formato muito conhecido, é parecido com a ponta do bastão do Rei Netuno, também está no símbolo da maserati, é muito usado na pesca noturna, é feita em ferro, encaixada e fixada firmemente em uma haste de pau roliço de uma madeira leve, precisa flutuar. É necessário muita habilidade para zagaiar, a refração da luz na água, distorce a imagem, que lhe parece num lugar, mas, está noutro, por isso, faxiar ou fachear, à noite, quer dizer, correr com um facho de luz sobre a água, que por gíria alterou-se a grafia em alguns lugares, mas, representa a mesma coisa, que é passar o foco de luz, com uma lanterna, ou até a tênue luz de uma poronga (feita a partir de latas de óleo, o combustível mais frequente é o querosene) pelas beiradas do lago, ou do igapó, para alumiar e localizar os peixes, que sossegados repousam. Sabe-se que os peixes não dormem, não tem pálpebras para fechar os olhos, entram num estado de letargia, num modo de repouso vigiado, que permanecem parados, ou, apoiados no leito próximo da beira, ou ainda, se sustentam pelas próprias bexigas natatórias, que é mais ou menos uma bolsa ovalada, de paredes moles, localizada na cavidade abdominal, logo abaixo da coluna espinhal, que mantém cheia de ar para ficarem flutuando. Esse artifício inteligente da natureza, foi copiado pelos construtores de submarinos, que chamam esse espaço da bexiga natatória dos peixes, de TLC - tanques de lastro de controle, onde enchem de água para o submarino submergir e expulsam quando querem emergir, o mesmo acontece com os peixes, que ao invés de água, regulam o volume do ar preso nessas bexigas para variar as profundidades.

Os peixes precisam de um tempo de repouso, isso se dá, pelo fato de passarem o dia todo se movimentando, ora se alimentando, ora escapando dos predadores. O fazem normalmente em noites muito escuras, sem luar, procuram o repouso nas beiradas dos rios e igarapés. Todos sabemos que o peixe se “cansa” quando é fisgado. Ninguém nunca viu um peixe cansado, ele não respira ofegantemente, gasta todo o seu oxigênio acumulado no sangue, na luta para se defender, e depois que o oxigênio se esgota, ele pára vencido se entrega facilmente, fica visivelmente sem forças, leva um bom tempo para se recuperar. Os pescadores esportivos do estilo “Pesque e Solte”, quando libertam o peixe, não sabem o estado de fraqueza que o animal se encontra, muitas vezes, nem chega a nadar poucos metros e logo é abocanhado pelos botos que inteligentemente já perceberam essa situação e se colocam em baixo da canoa a espera deles.

O pescador nato, conhece todos esses nuances da pescaria e da vida dos peixes, durante a pescaria com zagaia, é preciso de muita pontaria e mão certeira na lançada da zagaia, pois, a refração da luz, engana muito, o que varia com a qualidade da água, para distorcer a imagem, se barrenta ou negra, contudo, o nativo da região, conhece essas variantes desde sua tenra idade, aprendendo com os pais a técnica, sem saber o significado físico da distorção da imagem pela luz.

Já a pesca com arpão é diferente, é feita à luz do dia, o pescador localiza o peixe à distância, percebe pelo rebojo que provocam na superfície da água, ou, por bolhas de ar que soltam os peixes pulmonados, como o pirarucu, e lança seu arpão. Tem casos em que, a arpoada atinge o peixe em até 20 metros de distância da canoa que se encontra o pescador, é preciso ter muita experiência e uma pontaria certeira. Arpoar de longe, muitas vezes, sem nem mesmo saber qual peixe que se trata, só vai ver quando o arpoado é puxado para a canoa. O arpão é um instrumento de pesca, uma espécie de dardo, com ponta farpada e afiada, que vai encaixado na extremidade da lança feita de uma madeira roliça e bem retificada no fogo, de pouco mais de dois metros, que é usada principalmente para fisgar e prender peixes grandes, como o tambaqui, aruanã, pirarucu, etc. Essa ponteira, se solta com facilidade quando o peixe é atingido, está fixamente amarrada numa corda grossa para não romper e enrolada na outra ponta, na mão do pescador, que ao ser lançado o arpão se desenrola da lança, que se solta e fica flutuando n’água para ser recuperada. A luta do peixe é grande a partir daí, dependendo do seu tamanho chega a arrastar a pequena canoa com o pescador e tudo, para bem distante. Ficou provado que os peixes, não morrem rápido por ferimentos em seus corpos, com exceção de golpes na cabeça, e sim, por falta de oxigênio, por isso, embora arpoados, lutam ferozmente, não se entregam facilmente. Os japoneses mais aficionados por peixes frescos, comem suas carnes em forma de sushi, com o peixe ainda se debatendo diante dos seus olhos.

Para que seja usado bem o arpão, o pescador, se aproxima lentamente, deslizando a canoa com o remo na mão esquerda, segurando pelo cabo, com o maior cuidado para não provocar ruídos, se triscar na própria canoa, o peixe arisco, dá uma rabanada e some, enquanto sorrateiramente se aproxima, ele vai mantendo a mão direita alta em posição de arremesso, até que no momento exato, como faz a onça quando se lança sobre o jacaré de cima do barranco depois de longa aproximação, desfere o golpe mortal e certeiro, ele não mira em nenhuma parte especifica do peixe, não dá pra ver nem mesmo o próprio peixe, vai no rumo do rebojo que viu, calcula a distância onde ele já deve estar dentro d’água e lança o arpão. Não tem preferência, aonde acertar está bom, contanto que acerte, porque sabe que, se as garras farpadas com barbelas amoladas das pontas do arpão, penetrarem no animal, não se soltam e a sorte do peixe está selada. O pirarucu, que possui escamas grandes e duríssimas, não são defesas para uma boa arpoada, primeira ponta, a mais fina, perfura as escamas e penetra levando a outra ponta maior a mais profundidade, nas carnes do animal e se prende, porque no seu desenho, a barbela é a favor para penetrar e contra para sair.

Uma boa pescaria de arpão, não é certeza de captura de uma só espécie de peixe, depende de “quem” estiver na frente da mira do arpoador, que pode acertar uma gorda aruanã, que sempre se encontra em vigilância constante ao redor das árvores com folhagem baixa, onde se lança num salto espetacular fora d’água, para apanhar os incautos insetos, que descuidadamente se expõem à sua enorme boca, que se abre feito a rampa de um C-130 Hercules, também é conhecida na região amazônica como “sulamba” ou, pode pegar uma grande pirapitinga, ela é semelhante ao tambaqui, são homomórficos (mesmo formato) e são de escamas escuras como ele, mas em verdade, representam uma espécie de pacu grande, por isso também podem ter o nome vulgar de, “pacu negro”, muito abundante no Pantanal, nesta lista entra até o desavisado tucunaré que procura desovar em baixios para evitar predadores. A pescaria com arpão da Amazônia, difere das pescarias no mar, que precisam submergir em busca do pescado.

Molar
Enviado por Molar em 02/03/2021
Reeditado em 02/03/2021
Código do texto: T7196358
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