PAREDE FRIA

Os corredores eram longos e frios e a solidão parecia rondar por cada canto, apesar do movimento até intenso. Talvez porque não fosse um movimento alegre, mas sim o movimento de fuga. A fuga do mal da dor, ou das dores...

Em todos os olhares por ali, via-se apenas a procura de uma paz.

Ao final do corredor o quarto mais triste de todos.

O homem solitário e sem familia, não tinha ninguem para lhe dar carinho e cuidados.

Sabia que faltava pouco para o fim do sofrimento. E a esse fim ninguem poderia evitar.

Lamentava apenas ter chegado àquele ponto e constatar que muito pouco valera seus esforços, seu amor e sua dedicação.

Fracassou em construir algo que agora o sustentasse e nada mais poderia fazer. Fracassou nos negócios, fracassou na família, fracassou na construção de uma imagem boa de si e de valores que o elevassem e o fizessem se sentir em paz consigo.

Agora ali estava no mais terrível abandono.

Foi vencido pelo tempo, pelo despreso e pela desesperança.

Consolava-se um pouco ao virar-se para o canto da parede fria do quarto daquele triste hospital e chorar.