A PCH BRAÇO NORTE

A AMAZONIA QUE EU VIVI

Parte 2: A PCH BRAÇO NORTE

“Guarantã (Esenbeckia leiocarpa Engl.) é uma árvore da família Rutaceae. Apresenta ampla distribuição nas regiões da Mata Atlântica, ocorrendo de forma restrita em florestas primárias. É intolerante ao sol quando jovem. (Wikipédia)”

Outra das minhas obras, a PCH Braço Norte, localizava-se no então distrito de Colíder, de nome Guarantã, hoje cidade Guarantã do Norte. Localizada ao norte do Mato Grosso, Guarantã fica à margem do BR-163, a ultima cidade a norte do Mato Grosso, a 54 quilômetros da divisa com o Pará. Essa rodovia federal, que inicia na cidade gaúcha de Tenente Portela, segue no sentido sul a norte até Santarém, no Pará, possui no total 3.579 quilômetros de comprimento, sendo a quinta mais extensa do Brasil. Na época, o norte do Mato Grosso era uma região pouco habitada, repleta de garimpos e lugarejos onde os garimpeiros gastavam seus ganhos conquistados com muito trabalho. Praticamente todas as cidades acima de Cuiabá eram em ruas e estradas de terra. Aos finais de semana, essas localidades, normalmente um amontoado de bares e bordéis, ficavam muito movimentadas com a afluência de homens dos garimpos e trabalhadores das fazendas. Peixoto Azevedo era uma das localidades mais famosas, ficava a 38 quilômetros a sul de Guarantã. Estive lá apenas uma vez pela manhã e fiquei impressionado com a insalubridade e a sensação de insegurança que pairava no ar. Valas de esgoto a céu aberto, pequenos bordéis de pau à pique encostados uns nos outros, mulheres de todos os tipos, homens que observavam os visitantes com ar desconfiado e ameaçador. Pelas estórias que escutei, ali a vida não tinha muita importância.

Havia também fazendeiros vindos da região Sul, começando pecuária e agricultura com entusiasmo de ter sua própria terra, colocando sua família em condições carentes em conforto urbano dos grandes centros para obter futuro melhor.

Na época, Guarantã era um pequeno povoado somente com edificações de madeira, uma farmácia, um mercadinho, uma churrascaria bem simples, um hotel de três andares inteirinho de madeira na cor natural, sem pintura, onde instalei meu pessoal e alugamos uma casa até construirmos casas de madeira no local da obra. Havia um conjunto de casas da Cotrel, Cooperativa Tritícola de Erechim, situadas ao longo de uma extensa rua que era parte do acesso à obra. Eram edificações iguais, de madeira crua, mas uma delas me chamava a atenção. Era uma casa pintada de azul, com um pequeno jardim muito bem cuidado, muitos vasos de flores pendurados, a cerca da pequena varanda envernizada e tudo transparecia organização, capricho e zelo. Como faz diferença uma pessoas que ama o lugar que habita. Como em todas as hidrelétricas que implantei no Mato Grosso, cheguei ao local no dia que o Dermat (Departamento de Estradas de Rodagem de Mato Grosso) concluía a abertura da estrada de acesso. Se é que se pode chamar de estrada uma linha de cinco metros de largura, acompanhando o nivelamento da floresta, sem revestimento nenhum. Esse acesso me causaria grandes problemas. Coloquei um engenheiro meio gordinho metido a saber tudo e um experiente mestre de obras conhecido meu, o Julião. Julião era uma figura. Carioca, inteligente, filho de um empreiteiro, fora criado trabalhando com o pai e sabia tudo de comandar pessoas e executar obras. Julião era muito inteligente e esperto, fazia de tudo para o trabalho não parar. Ficou hospedado no hotel de madeira, em um quarto especial, com camionete de seis lugares a sua disposição que ele mesmo dirigia e transportava a equipe de encarregados e operadores de máquinas, enquanto não construíamos as casas de madeira do canteiro de obras. A partir daí que me lembro de características e estórias incríveis sobre a região e as pessoas.

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 04/03/2021
Reeditado em 26/09/2021
Código do texto: T7198372
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