QUE AS ÁGUAS DE MARÇO FECHANDO O VERÃO, SEJAM PROMESSAS DE VIDA NO TEU CORAÇÃO

Da vida, quando menos se espera, ela surpreende. As vezes de forma agradável, outras não. Quanto à agradável, quem comprovou está assertiva em uma oportunidade foi o saudoso e famoso Tom Jobim.

Em depoimentos, o compositor narrou que em março de 1972, passou um período em seu sítio de Poço Fundo, na região serrana do Rio de Janeiro, com o objetivo de finalizar o álbum Matita Perê, que de fato foi lançado no ano seguinte. Ele estava no sítio, Estado do Rio, numa casinha provisória, na beira do caminho, apelidada de "barraco 2", enquanto construía uma maior, no alto do morro. Havia comprado madeiras de lei, vigas imensas descarregadas por caminhões, deitadas ao relento, ao lado de pedras e tijolos, num terreno enlameado. Exaurido de tanto trabalhar em "Matita Perê", quando sua mulher foi se deitar, começou a cantarolar: "É pau, é pedra, é o fim do caminho". Da cama, ela comentou que o tema era lindo. Então, ele pediu lápis e papel. Ela arranjou um papel de embrulhar pão no qual o compositor rabiscou a letra de "Águas de Março".

Tom Jobim certamente sequer imaginava que naquele dia, exaurido de tanto trabalhar, ainda iria escrever em um papel de embrulho "Águas de Março". É fácil concordar com Chico Buarque como uma vez sentenciou: “eu acho o samba mais bonito do mundo". Poucas músicas conseguem permanecer no topo e “Águas de Março” conseguiu. Foi uma vitória para Tom Jobim. Transcendeu tempos e gerações graças à qualidade de arranjos, melodia e letra. Para Tom Jobim, na época, escrever a canção “Águas de Março” foi uma agradável surpresa da vida, visto que, como mencionou em entrevistas, compôs a música em um momento de muita tristeza. O artista estava sem esperança, reclamava que não estavam ouvindo suas músicas e se dizia deprimido.

Quanto a nós, hoje, em pleno mês de março, passamos por um momento delicado, desagradável, decorrente da duração por mais de um ano de pandemia, seria compreensível se viéssemos a cantar “é pau, é pedra, “é pandemia”, “é lockdown”, “é pouco dinheiro”, “é politicagem”, “é corrupção”, “é aumento dos preços dos combustíveis”, “é pouca vacina”, “é o fim do caminho”. No entanto, confesso, não podemos desistir, ao contrário, devemos ser gratos por estarmos diariamente sendo protegidos e abençoados por Deus. Devemos confiar da existência de um momento agradável e de boa surpresa de vida para todos nós, por isso prefiramos cantar o lado esperança do majestoso samba do Tom Jobim: “Que as águas de março fechando o verão, sejam promessa de vida no teu coração”.