[ anticrônica #5 ]

quando despertas e te sentas numa

cadeira, e te perguntas se chovera,

posto que molhado é o chão, e quase

vê o céu nas poças, porém se limita

às fiações:

são verdes as tuas manhãs entre as

pessoas, os aracnídeos, as moscas,

os gatos

e a prece [ vinda ] de um rádio.

não habitaste o mar;

nem planejas ida à outra América.

não habitaste a altura dos frutíferos

ramos de acerolas, porque há o muro,

o desconhecimento dos que habitam

a outra casa, e o isolamento social:

apenas a imaginação, e o sonho,

podem ter alguma liberdade.

de ver plantas secas, quase te

acostumas à ideia de morte — mas

a rejeita,

posto que é o fim de tudo.

e que de nada valeria que gritassem

a teus ouvidos, para que fique,

para que fique.*

relutas a ideia fatídica da morte

e crê no possível amor entre os

homens, no fim das guerras e

na igualdade social e financeira

sem te associar às ideologias:

ter empatia, bastaria.

pois seguir o homem,

que pode ser o lobo de outro,

quando não se camufla em cordeiro;

pois seguir o homem,

capaz de matar outro homem,

à ordem de um outro;

pois seguir o homem intitulado

ou o intitulando líder, salvador,

herói,

com a possibilidade da apunhalada,

com a possibilidade da traição;

o homem pode ser o perigo

de outro homem,

como sabemos,

como,

diariamente,

vemos:

e no entanto,

busco o amor entre eles.