Exercício físico e preguiça

Além de umas partidas de futebol na infância/adolescência, nunca fui muito inclinado ao esporte. Eu até gostava de realizar atividades físicas, mas os meus dotes para qualquer esporte sempre foram muito precários. Não sendo o dono da bola, por exemplo, ou estava fora das peladas ou jogando de goleiro. Na idade adulta tive a felicidade de conviver com um amigo paulista, professor de educação física, Adolfo Carniato, que me iniciou na corrida de rua. Passei a ser um adepto desse esporte, chegando a correr algumas maratonas. A motivação aí já era outra, sendo a saúde o grande mote.

Com o passar do tempo as articulações começaram a reclamar, os joelhos a doer, sem ter fisioterapia que desse jeito. Foi aí, novamente com o aconselhamento do amigo Carniato, que me iniciei no ciclismo. Logo eu que aprendera a andar de bicicleta já adulto! Dei-me bem com o novo esporte. Pedalar na praia, contemplar a bela paisagem, encontrar os caminhantes de todo dia, cumprimentá-los, passou a ser o meu novo prazer.

Mas comecei a cair e troquei as pedaladas pelas caminhadas, acompanhado desta vez por um amigo irmão. É nessa prática que encontro médicos antigos e atuais, amigos novos, outros nem tanto, e muitas histórias são construídas sobre a experiência de cada um nessa atividade.

Um dia encontrei uma amiga, não tão regular nas caminhadas, que afirmou estar aguardando a aposentadoria para ser mais frequente nessa atividade. E fiquei pensando: será que depois de aposentada, com as debilidades decorrentes, ela não vai arranjar um outro motivo – esse físico - para não caminhar?

Teve o caso também daquele jovem médico, regular no passeio, mas que de repente sumiu. A explicação: agora estava numa academia, por isso renunciou às caminhadas. Um outro médico, esse já com muitos anos rodados na profissão, comentando as faltas do colega, foi cruel: “- Isso de estar fazendo academia é desculpa de preguiçoso. A academia é a cama”.

Em época de chuva os álibis são mais consistentes. Todos têm a desculpa de que não vão caminhar porque a chuva não deixa. Mas continuo encontrando por lá muitos outros praticantes que não veem a chuva como desculpa para continuar na cama.

O interessante é que cognitivamente todos sabem dos benefícios das caminhadas diárias: melhora as condições cardiorrespiratórias, aumenta o bom colesterol, reduz o risco de doenças cardiovasculares, de reumatismo, de diabetes, de hipertensão arterial, de câncer, de degenerações neurológicas e muitas outras coisas. E por que não se dispõem a pular da cama e cair na estrada? Certa vez li uma coluna do Dr. Dráuzio Varella que trazia uma boa explicação. Para ele o exercício físico vai contra a natureza humana. E que se estende a outras espécies, também. Os animais poupam energia para o momento da caça, por exemplo.

Tudo bem que sair da cama às cinco da matina encontra resistência do organismo. Até engrenar e sentir o bem estar que o exercício físico proporciona, além da consciência tranquila do bem que a si está fazendo em troca de uma vida saudável, demora um pouco. “Pero no mucho”. É só encontrar com os companheiros de caminhada, começar a saudar os passantes, muitos ali com a vontade de ter espichado um pouco mais a permanência na cama, mas que, como você, também resistiram à preguiça em prol da saúde, que a resistência vai embora. Exercitemo-nos, pois.

Fleal
Enviado por Fleal em 09/03/2021
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