A morte de um livro ou as intermitências da literatura ?

Antes de começar essa tentativa de consolo através das palavras, quero afirmar algo: José Saramago é um gênio da literatura e talvez o meu escritor favorito.

Apesar de achar a sua escrita fascinante, não consigo concordar com uma frase dita por ele em uma entrevista: A literatura não serve para nada. Apenas consigo dizer: Errado! Absolutamente errado!

A literatura é algo altamente necessário, tanto quanto uma forma de entretenimento, arte, função social ou ajuda pessoal. É uma das formas mais belas que a arte pode representar.

E por causa do meu indescritível amor pela literatura, fico extremamente alucinada com o cuidado que tenho com meus livros. A capa impecável e sem marcas de dobras nas folhas amarelas (ou brancas) eram características que eu considerava essenciais para preservar as histórias que foram escritas durantes séculos.

Atualmente, minha paranoia em deixar meus livros em perfeito estado diminuiu, mas ainda lamento um acidente que ocorreu há dois anos:

Quando comprei o livro "As intermitências da morte", acariciei incontáveis vezes a minha belíssima edição. Além de que fiz diversas marcações com post-its roxos (em uma referência à história do livro) para lembrar de frases ou períodos excepcionais. Porém, durante uma aula chata de filosofia, eu estava recolocando um desses post-its quando uma pequena parte da folha foi arrancada abruptamente, assim como a minha calma ao ver uma obra tão perfeita com um pequeno rasgo. Se o meu foco na aula já quase não existia, era impossível eu prestar atenção nas aulas seguintes.

O momento de desespero de uma leitora foi real, mas com tempo percebi que não tive o mesmo sentimento depois caso ocorresse alguma danificação com um livro. Comecei, até mesmo, à grifar e escrever nos meus livro.

Se a literatura realmente não serve para nada, bom, pelo menos ela serviu para diminuir um pouco a minha neurose.

Clarice Gaarder
Enviado por Clarice Gaarder em 09/03/2021
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