Cabaceiras, de Antônio Juarez Farias

          Município bucólico, campesino, dado aos costumes rurícolas, e, para completar, de cenário natural, cheio de pedras, grandes e bonitas. Seria como a Reggio Calabria, do cinema italiano. Região também propícia às atividades pastoris caprinas, por isso, atinou Wills Leal ao incentivo da Festa do Bode Rei. Também coisa de Wills, compará-la à Hollywood americana, sugerindo um enorme outdoor , num elevado, logo na entrada da cidade, com os dizeres: Roliúde Nordestina. Se esta placa não produziu vocações artísticas, ela foi produzida pelos vocacionados da arte, como o caso de Zé de Cila, constantemente vestido como o Padre da película O Auto da Compadecida e dono de uma loja de artesanato do cariri. Pequena, como Hollywood, mas, Cabaceiras, de cerca de 6 000 habitantes, abriga festivais e produções de filme. É pitoresco encontrar, nas praças, estátuas de bodes e cabras; e, nos bares, figurantes de alguns filmes, dizendo-se protagonistas e artistas de cinema. Outras curiosidades são propagadas pelo turismo estadual.
         Mas, para Juarez, há importância no rio Taperoá, que nasce em Teixeira, passa pelo município do seu nome, por São João do Cariri, e principalmente banha Cabaceiras, para depois desaguar, quando tem água,  no extenso rio Paraíba, que enobrece os recantos da minha infância, minha adolescência, nas cidades de Pilar, Itabaiana, João Pessoa e, da idade adulta, Cabedelo, onde, hoje, moro. Seus ex-colegas amigos conselheiros do TCE e confrades da APL, como Luiz Nunes, Arnóbio Viana, Flávio Sátiro, Evaldo Gonçalves e Osvaldo Trigueiro do Valle, em almoços semanais, riam e divertiam-se, quando Ramalho Leite contava e repetia que, quando Juarez era super-secretário de João Agripino, depois do prestígio de ter ido aos USA, para negociar recursos à construção da rodovia Anel do Brejo, pediu ao Governador a construção da ponte de Cabaceiras. Ao que Agripino, jocosamente, teria respondido: “É mais barato transferir a cidade para o outro lado do rio...” Juarez ficava sério, mas não deixava esse gracejo sem resposta, explicando as “razões técnicas” da ponte. E , batendo os dedos na mesa, concluía: “Esse sonho se realizou, a ponte foi construída”. Há gravação do discurso de Juarez, na inauguração da ponte, que critica a tardança e agradece aos governos de Wilson, de Burity e de Ronaldo, enfim, a realização tão desejada: “Essa ponte ligará Cabaceiras ao tempo...”
          A grande importância de Cabaceiras, para Juarez, estendia-se à sua vizinhança com Campina Grande, considerada por ele uma metrópole e um centro de história política e de empreendedorismo no Estado. Citava esse mundo com exímio conhecimento, da ferrovia à rodovia; das casas aos edifícios e palácios. Sobremaneira, a educação que obteve, no histórico PIO XI, do Padre Emídio Viana, irmão de outro mestre, o amigo Professor Manuel Viana, do Centro de Educação da UFPB.
          Juarez Farias exerceu relevantes funções de destaque, durante sua competente vida pública: Como vice-governador, assumiu o Governo do Estado; foi Conselheiro e Presidente do Tribunal de Contas; e imortal membro e Presidente da Academia Paraibana de Letras, onde me estimulou e apoiou meus oito anos de gestão à frente da APL. Nesse convívio, detalhava-me suas ações na Sudene e o quanto ajudou à Paraíba e aos seus municípios. Foi um braço forte do economista Celso Furtado, também entendendo de economia, de pobreza e de o que é uma região em desenvolvimento. Na intrépida fala do seu sentimento, demonstrava que, na coragem, há sempre mais recursos do que na razão. Juarez, conforme Jesus apud Lazarum
(
João 11, 1 – 44), não deveria ter nos deixado...