MALAS QUE FALAM

Maria Clara fecha a última mala onde espera ter guardado o que vai importar na nova vida que escolheu para si.

Casada a dez anos com Luiz Miguel, entendeu, após a última discussão com o marido, ser o divórcio a solução para o melhor seguimento da vida de ambos.

Com toda a parte legal realizada, cabe

a jovem de 32 anos, sem filhos, reunir agora, em algumas malas o que por direito e por gosto lhe restou.

Maria Clara olha as malas e tem a sensação de que faltam malas, que estão sobrando sentimentos e recordações que deveriam ser levados.

Fica imaginando se seria possível adentrar em um novo universo, estando destituída do manancial das lembranças que por uma década forjaram o seu ser, movendo sua caminhada.

Sem respostas para o seu questionamento a jovem coloca as malas no bagageiro .

Maria Clara entra no automóvel e ali permanece, olhando o prédio que por tanto tempo lhe abrigou...

Novamente pensa nas malas e decide que muito do que está levando, caso não queira poderá ser doado.

Nesse momento, a jovem entende ter sido melhor não trazer as outras malas, as imaginárias, pois aquelas viriam repletas das mágoas, tristezas e dores acumuladas ao longo do caminho...pois essas não queria nem deveria doar para ninguém....