ARRIMO

O desejo de Maria Luiza de largar tudo e seguir pelo mundo em busca de aventuras era apenas um sonho, um devaneio, que fazia parte do imaginário da jovem, que além do trabalho em uma papelaria, cursava o último ano do curso técnico, curso esse que ela esperava lhe desse um futuro promissor e lhe assegurasse um aumento da renda, tão necessário para manter a mãe, dona Zizi, viúva e doente.

Assim seguia a vida da jovem que aos dezoito anos já era arrimo de família e tinha que guardar sonhos e desejos, evitando fugir da vida difícil onde a extrema

responsabilidade a impedia de espalhar-se pelas novidades e nuances de um mundo moderno e a mantinha como cuidadora da mãe idosa e acamada.

Tudo seguia normalmente na vida da ajuizada e conservadora Maria Luiza, até o dia em que uma chuva incessante, ultrapassa sua sombrinha e ensopa o corpo da jovem, que espera o ônibus em uma parada próxima ao seu trabalho, quando a buzina de um

reluzante automóvel preto, lhe arranca dos pensamentos e preocupações. Na direção ela vê Ronaldo, amigo de infância.

- Malu, Malu, grita a voz tão conhecida do seu coração - corre, vem.

Ela saiu do torpor que se viu envolvida e correu para o veículo, ele abriu a porta e imediatamente, ela entrou. Tremia, mas não só de frio. Seus pensamentos estavam num turbilhão.

- Você vai pegar um resfriado. - Falou um Ronaldo, deverás preocupado. Ato contínuo lhe entrega o palitó, que se achava jogado no banho de trás.

- Vista isso. Ainda moras na mesmo casa?

Maria Luiza procurava uma maneira de responder, sua vós não lhe obedecia, tremia descontrolada. Uma torrente de sentimentos, sofrimentos e todas suas angústias se libertaram, num choro incontido. Quanto mais ela tentava se controlar, mas os soluços ficavam forte.

Ronaldo procurou um lugar para estacionar. A chuva estava cada vez mais forte, tornando difícil a visibilidade. Percebeu que se aproximavam de um supermercado e se dirigiu para o estacionamento. Procurou um lugar mais afastado. Desligou o motor e pacientemente, esperou que a amiga conseguisse se controlar. Instintivamente a puxou para seu peito e ficou ali, quieto, alizando os cabelos dela. Começou a balançar seu corpo para frente e para trás, devagar, como se estivesse ninando um bebê.

Fazia tanto tempo que a pobre moça era fortaleza, que toda sua fraqueza desmoronou naqueles braços que tanto sonhou. Assim que terminaram o primeiro ano do colegial, há mais de dois anos, o menino que ocupou seu coração desde sempre, se mudou com a família para outro Estado. Ela nunca deixou transparecer seus sentimentos. Nunca percebeu um olhar sequer, por parte dele. Só lhe restava guardar a lembrança de um abraço. No último dia de aula, a turma resolveu dar um abraço coletivo e o Ronaldo estava do seu lado, deste abraço, ficou o seu calor, no seu coração apaixonado.

Sim, Maria Luiza guardou em seu coração esse amor que agora reaparece, maís forte do que nunca arrebatador.

E assim os dois jovem, retomam a história, com se não estivesse havido a separação. A jovem vive dias iluminados sendo o amor o seu leme e Ronaldo a razão de seu viver.

Porém, por mais que o amor paire no ar onde Maria Luiza respira, a responsabilidade e o senso de dever para com a mãe fala mais alto, impedindo a jovem de se entregar completamente a esse amor.

Menina criada dentro dos princípios religiosos, indicada como exemplo de pureza, dedicação e comprometimento, estava terminando o colegial sem se envolver em namoros, usando o tempo livre para se dedicar aos estudos, preparando de para ingressar na universidade. Esse era seu foco. Imaginava se desde sempre a universitária graduada que a mãe e todos esperavam

Em.muitos momentos Maria Luiza lembra do tempo em que conheceu Ronaldo, como colega de aula, porém lembra também a fama de namorador que ele possuía. Mas nem essa faceta da postura do rapaz, impediu que a jovem se enamorasse de seus lindos olhos negros e de seu belo porte atlético

O tempo passa rápido e uma notícia vem atrapalhar o romance do jovem casal. A empresa onde Ronaldo trabalha esta lhe transferindo para uma filial do norte do país e o jovem insiste para que Maria Luiza lhe acompanhe como sua esposa. Deseja que juntos formem uma família, que tenham filhos que se criarão longe dali..

Nuvens chegam para cobrir o idílio do casal. Dúvidas chegam para perturbar o coração de Maria Luiza.

De um lado a paixão, o amor, a libertação. De outro lado o futuro da universidade, da pós graduação, da profissão. Somada a isto está a responsabilidade do ser arrimo que precisa forças para romper o elo simbiótico com a querida mãe. Existe ainda as expectativas dela mesma e de tantos.

Chega o dia da partida, foram duas passagens compradas, voo de primeira classe, Ronaldo olha o assento ao seu lado vago. Enquanto Maria Luiza, com os olhos marejados, preenche a ficha para os exames vestibulares. Em casa a mãe feliz, reza para que a filha tenha feito a escolha certa.

CEIÇA e Socorro Beltrão
Enviado por CEIÇA em 17/03/2021
Reeditado em 10/02/2024
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