Os perigos da fofoca

Nunca vou esquecer de uma história que li quando criança. Nela, uma aluna com dificuldades em Matemática consegue tirar uma nota muito boa e uma menina, com inveja, diz justamente à menina mais fofoqueira da turma que vira a outra colando na prova. Como podemos prever, a menina fofoqueira, chamada Cristina, logo espalha que a outra tinha colado na prova e não demora a que a menina que tirou boa nota fique com fama de aluna desonesta. A professora, decidindo averiguar, consegue descobrir que tudo não passara de invenção da menina invejosa, que acaba confessando. Entretanto, os danos já haviam sido feitos.

Uma história desta mostra bem como a fofoca é algo perigoso. Embora nós costumemos dizer que onde há fumaça há fogo, a verdade é que a mentira muitas vezes tem tanta força quanto a verdade. Muitas reputações acabam arruinadas por causa de mentiras e fofocas. E é comum que a pessoa que faça fofocas não se importe se o que ela está espalhando é ou não verdade. Desta forma, criam-se escândalos e a pessoa sobre quem se fofoca pode ficar com a reputação lesada.

Seria bom que todos tivessem o bom senso de não dar atenção quando alguém vem dizer algo desfavorável sobre outra pessoa, porque é óbvio que quem fala dos outros não tem boa intenção, além de exagerar. Na mesma história que li, Cristina, a menina fofoqueira, perde uma amiga porque a outra havia lhe contado que achava um colega da turma muito simpático. Em pouco tempo, todos sabiam o que a menina achava do menino e alguns até haviam perguntado se ela não era namorada dele.

Um fato que mostra como a fofoca pode causar mal-estar, constrangimentos e desentendimentos é uma história na vida real, em que a mãe de uma moça, chamada Ana Maria *, do nada, deu na filha várias broncas, dizendo que ela deveria prestar atenção às aulas e não ficar saindo. A filha perguntou a mãe o que havia de errado e a mãe acabou revelando que alguém telefonara anonimamente para a casa, dizendo que ela não estava prestando atenção às aulas. Como é natural, a moça ficou revoltada, mas a mãe disse que ela devia entender que a pessoa fizera aquilo para ajuda-la.

Façamos o seguinte questionamento: uma pessoa que dá um telefonema anônimo para a casa de outra pode ter boas intenções? Como alguém pode ser tão estúpido que não possa prever que esse tipo de atitude causará constrangimentos e desavenças no núcleo familiar? Ana Maria mesmo disse que ficou mais revoltada com a mãe, por ter dado crédito a um telefonema anônimo do que com a pessoa que havia ligado para sua casa. Ela mesma disse à mãe: “Se essa pessoa achou que eu não estava prestando atenção às aulas, por que ela não veio falar pessoalmente comigo em vez de ligar para casa?” A mãe até disse: “Será que ela não foi e você não foi com quatro pedras na mão?” Como vemos, foi bastante doloroso para a filha ver que a mãe preferia acreditar em alguém que havia ligado sem se identificar.

Todas essas histórias – reais ou fictícias – ensinam que devemos tomar cuidado com gente fofoqueira. Fofocas causam intrigas e mal-estar. Então, não caiamos na tentação de espalhar boatos sobre ninguém. Gostaríamos que alguém espalhasse algo sobre nós, fosse isso ou não verdade?

*Nome trocado para proteger a privacidade