Na sala de aula

Mocinha, quatorze anos no máximo.

E, nesta época, ditaduras tais quais o Stalinismo escapavam a seu conhecimento.

Tempos em que Perestroika ou a queda do muro de Berlim eram acontecimentos impossíveis.

Época do sonhado extermínio de nosso sistema vigente.

E, tudo em que ela podia pensar era na idéia de uma sociedade mais justa, com menos diferenças entre as classes sociais.

Garantia de transporte.

A Saúde não devia ser luxo.

Hospital não podia ser empresa.

A precariedade do precário SUS, doente e corrompido pelas fraudes, pelas licitações de vacina, pela distribuição irregular de internações hospitalares, pelos tantos laboratórios não informatizados...

Sentada em sua carteira, rostinho apoiado pelas mãos, a menina de olhos brilhantes e sonhadores, fertilizada de pensamentos distantes, estava distante da sala de aula, e da Voz inaudível de professor.

Cachos louros a emoldurar um rostinho rosa e sereno.

Segredo de sua expressão: ninguém poderia supor a revolução no âmago da menina.

Uniforme azul, passado e cheiroso.

Mochila presa à cadeira.

Assim como ela.

Presa àquele colégio, atada em nós do pensar.

Presa a ilusões, que eram coerentes, dentro de sua limitada visão de mundo, natural pela idade e pela forma que a educação deseduca, aliena e deturpa os fatos.

Presa a histórias que não a estavam convencendo mais.