Uma pena, e um alívio

Às vezes me assusto com a minha idade. Eu sei, você vai dizer que sou jovem e de fato sou. Mas alguns dias, como hoje, acordo pensando na proporção do tempo passando e tento não imaginar como estarei daqui a dois anos, por exemplo. Eu gosto da minha vida. Tenho os pés marcados de alguns tropeços, mas no geral eu gosto. Só que prefiro fugir das reflexões do tipo “como você se vê daqui tanto tempo?...” as pessoas adquiriram uma mania de desejar que o tempo passe rápido: desejam que o final de semana chegue logo, reclamam que janeiro é infinito... agosto não tem fim ... setembro não acaba. E eu? Eu quero é que o tempo seja leve, sorrateiro, que caminhe ao meu lado e me permita muitas horas perto de quem eu amo. Calendários e relógios definem rotação e translação. Tempo é outra dimensão.

Eu também sou feita de frustrações.

Não minto que meus dias, apesar de todo o peso desse mundo, têm sido de aceitação e que já mudei muito o foco das minhas lamúrias /barra/ gratidão, e isso certamente faz parte de uma construção, mas é humanamente impossível não reparar nas marcas da pele, lembrar de alguns sonhos e reacender alguns medos. E me assusto.

Na tevê, notícias sobre a (não) vacina. Como vê, não é tão difícil pensar que a vida está passando sem que estejamos vivendo.

Hoje acordei pensando na minha idade, na minha vida, em quem eu achava que seria há dois anos atrás e fiquei triste. Só que isso também já aceito melhor. Uma pena que além de todo nosso sistema nervoso, também somos feitos de sonhos. Uma pena, e um alívio.

Que amanhã seja um dia solar do lado dentro. Eu também sou feita de (cl)amor – e disso não quero esquecer.

#TextoDeQuinta

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 25/03/2021
Reeditado em 25/03/2021
Código do texto: T7215490
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