VIVENDO NOVOS TEMPOS...

 

O medo de errar, por vezes, cria seres humanos pusilânimes inconscientes,  mas pensando bem, não é bom que isso sempre esteja acontecendo, mormente quando se tratar de pessoas que vivem tentando acertar durante a vida inteira e se não o fazem com mais frequência é porque têm no âmago do seu ser aquele famigerado receio de errar.

Juquinha, por exemplo, tem sido constantemente admoestado por seus avós em momentos em que ele se presta, ainda que o seja de forma inconsciente, a fazer o papel de bobo da corte para com as demais crianças da vila onde mora, justamente quando lhe são feitas perguntas capciosas sobre diversos assuntos noticiados pela mídia nacional.

Partindo-se do princípio de que o bobo da corte, o original, evidentemente, era um serviçal da monarquia incumbido de entreter o rei e a rainha e fazê-los rir à toa e, por tabela, engabelar a plebe, na maioria das vezes, faminta, a atitude do garoto Juquinha do nosso mundo moderno faz com que seus colegas e vizinhos também o tenham nessa conta.

Por ter muito medo de errar e, sobretudo, por não dispor de um telefone celular conectado com a internet para fazer suas consultas relâmpagos em algum sítio de pesquisas, ele sempre tem dado respostas sem nexo para perguntas simples que lhe são feitas, justamente para aquelas que ainda não o são do seu conhecimento deveras pueril.

Para se ter uma ideia da dimensão do seu problema, até pouco tempo ele acreditava que a HIDROXICLOROQUINA era um medicamento eficaz para curar pessoas infectadas pela Covid-19, pelo simples fato de esse remédio ser constantemente indicado para esse fim por uma pessoa influente em âmbito nacional.

Assim, fazendo o papel de bobo da corte, esse inocente garoto vivia informando para outros garotos de sua comunidade que quem tomasse certa vacina que tinha aparecido no mercado mundial viraria jacaré, mas felizmente ele já descobriu que tudo isso não passava de mais um alarme falso sazonal.

Nos tempos dos monarcas medievais, muitas vezes, os bobos da corte eram as únicas pessoas que podiam criticar os reis sem correr riscos, uma vez que sua função era fazê-los rir e, por extensão, os servos dos reis; hoje, os palhaços e humoristas populares também o fazem com muita naturalidade, maquiando problemas considerado sérios para com a vida sofrida do nosso povo.

Diferentemente dos tempos medievais, mas referindo-se aos tempos dos mandatários-mores modernos, justamente esses que ora estamos vivendo, se alguém tentar criticar os deslizes de algumas dessas pessoas influentes em âmbito nacional que, às vezes querem fazer o papel de verdadeiros monarcas, já existe um grupo de delatores de plantão que estará disposto a agir em favor dessas pessoas influentes, relatando tudo o que fora apurado, como se fosse pecado falar a verdade, doa a quem doer.

Bons tempos aqueles! Os bobos da corte eram bem mais prestigiados, faziam os monarcas felizes, riam junto com eles e ambos tinham plena consciência do que estavam fazendo... Já o Juquinha que, de vez em quando, tem sido induzido a fazer o papel de bobo da corte de sua comunidade, não se sente um garoto totalmente feliz, uma vez que tanto ele quanto algumas pessoas críticas do nosso mundo moderno, supostamente protegidos pela tão propalada liberdade de expressão, já têm conhecimento de que estão sendo “espionados” por quem jamais deveria assim o fazê-lo, mas em contrapartida, são induzidos a acreditar que estão vivendo novos tempos...

Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 02/04/2021
Reeditado em 13/05/2023
Código do texto: T7221949
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