MEU NOME NÃO É ENÉIAS

MEU NOME NÃO É ENÉIAS

Nelson Marzullo Tangerini

Uma vez, há muito tempo atrás, quando postava uma carta na Agência da ECT do Méier, na Rua Dias da Cruz, tive o desprazer de encontrar um morador bairro, que fazia propaganda de sua candidatura política pelo partido do Dr. Enéias, aquele político barbudo, minucioso em seus discursos, que encantaram e inflamaram muitas pessoas acostumadas com conhecimentos rápidos e rasteiros . O santinho trazia, de um lado, a foto do vizinho, aloirado, e, do outro, do político em questão.

Já o conhecia de vista, da padaria ou do mercado, mas não imaginava que ideias circulavam por aquela cabeça alienada, poluída e desprovida de conhecimentos.

O pretendente a político, que não conseguiu se eleger, tentava doutrinar os funcionários da agência, sustentando a tese de que o Brasil precisava de um Mussolini, de um regime forte e que o duce trouxera um grande progresso para o país de Dante e Vivaldi.

Indignado com seu discurso fascista, típico da escola integralista, perguntei-lhe se era descendente de italianos e se conhecia História. O imbecil me disse que sua família nada tinha a ver com a Itália.

- Pois eu sou descendente de italianos. E afirmo que o senhor não entende nada de História. Mussolini era tão bom para a Itália, que acabou sendo assassinado, com sua companheira. E, depois, seus corpos foram pendurados de cabeça para baixo.

Falando bem alto, para todos os funcionários da agência, ouvirem, dei-lhe uma aula de História e pedi que não enganasse as pessoas e que se retirasse daquela agência de Correios, o que ele fez imediatamente.

E prossegui:

- Procure estudar História, para não dizer m... às pessoas humildes e de pouco estudo em História.

Nunca fiz questão de conhecer Enéias e seu programa político. E aqui fica a pergunta: O político, que carrega em seu nome a memória de um líder troiano, e as pessoas de seu partido eram a favor de uma proposta fascista, a moda de Mussolini?

Conheci velhos portugueses que acreditavam que Salazar, também um mito, havia trazido um grande progresso para Portugal, o que é contestado por ilustres portugueses como Emídio Santana, vítima da ditadura de António de Oliveira Salazar, que fez publicar no jornal anarquista A Batalha, Lisboa, julho/agosto/setembro de 1986, o soneto abaixo:

“NEM A MORTE O REDIMIU

Requiem por Salazar

[Inspirado no conhecido soneto

de Camões de requiém pela Natércia.]

Alma mesquinha que enfim partiste,

( - tão tarde!!! – diz o povo descontente)

Que vivas lá no inferno, eternamente,

Que ninguém por certo ficará triste.

E se lá no inferno onde caíste

Memória deste mundo se consente,

Que não esqueças esta lusa gente

A quem tão maus tratos infligiste.

E se vires se te é dado compensar

De algum modo a dor que nos deixaste

Destes quarenta anos de penar,

Roga a Deus, que a teu modo acreditaste,

Que bem cedo te mande acompanhar

Pela corja sinistra que criaste!”

As viúvas de Francisco Franco e Adolf Hitler, também andam por aí, em pleno século 21, tentando reviver e emplacar teses macabras que, antes, eram sustentadas pelos integralistas brasileiros.

No passado, “as galinhas verdes” chegaram ao ponto de conseguir pôr o nome de Francisco Franco, “O Generalíssimo”, numa rua de Bangu, subúrbio do Rio de Janeiro. O nome dessa rua já não devia ser mudado?

O livro “Fascismo à brasileira – como o integralismo, maior movimento de extrema direita da história do país, se formou e o que ele ilumina sobre o bolsonarismo”, de Pedro Dória, Editora Planeta, elucida bem como o fascismo renovou sua bateria para o ataque presente. Ali estão nomes de “intelectuais” que comungavam na mesma cartilha – ora fascista, ora nazista. E como estas pessoas se curvavam vergonhosamente diante de “mitos” autoritários e assassinos.

A história nos faz repensar a trajetória humana na Terra, os holocaustos que deixaram atrás de seu nome a montanha de mortos que estão registradas em livros ou mesmo na internet.

“É preciso estar atento e forte”, para que toda esta atrocidade não se repita. Se repetir, que os fascistas tenham o mesmo fim de Mussolini. Durrutti deixou-nos uma frase histórica, que merece ser lembrada, de que não há diálogo com os fascistas, que o fascismo deve ser destruído. Lamentavelmente, a paz social vai ter de ser conquistada dessa maneira.

Esperamos que seja destruído através da Educação Libertária.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 05/04/2021
Código do texto: T7224685
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