NorRaf – Punição, Parte II

EPISÓDIO 9

O que é o medo?

Por que ele se manifesta?

Como ele se manifesta?

ANO SETE - VERÃO

Gerânio...

No topo do altar da punição, Gerânio se encontra calmo. O altar é uma prisão cúbica transparente, seu ambiente interno é completamente isolado do externo, sua dimensão é composta de arestas de dois metros. E este, é palco dos maiores castigos que um NorRafiniano pode sofrer.

Todo Império está recebendo esta transmissão ao vivo, serão dois dias, dois dias que colocará à prova as maiores virtudes de um NorRafiniano, sua resiliência e seu orgulho. Também, é neste momento que pode manifestar seu maior desprezo, o MEDO.

Sendo protagonista de um espetáculo, Gerânio observa aquela multidão em êxtase que espera sua sentença.

Aquele aroma floral sutil e doce ressoa no recipiente momentos antes da punição.

“Se eu pudesse sentir.... que tipos de aromas exalariam vindo de todos estes irmãos? Excitação?! Clemencia? Amparo? Satisfação?.... Não importa... não agora... nada importa agora.... Se eu pensar em o que esta punição irá resultar... Irei fracassar, conheci o medo ao sentir o lado escuro de Díade...

Consigo sentir o cheiro da vergonha exalando de mim, ainda não perdi meu orgulho e não o perderei agora. Para isso, o tempo tem de deixar de ser linear. Lembranças... expectativas... suposições... tudo isso resultará em meu fracasso. Agora... nada disso importa, aceitei meu destino e ele só existe no agora.”

Na câmara, os odores são liberados.

Os odores penetram por entre as escamas e as narinas de Gerânio, toda sua estrutura, cada fibra muscular, ossos, órgãos, escamas... sentem os abalos que estes aromas provocam, seu gosto é de morte... seu gosto... é de vergonha.... seu gosto.... é de medo.

Gerânio após duas horas, ainda permanece impassível aos olhos da multidão. Seu corpo parece nada sentir, mais isso é para quem vê de fora, pois, por dentro daquela câmara o tempo deixou de existir, o momento se transformou em eternidade, e, uma batalha interminável contra o medo permanece sendo travada.

Em um momento de lucidez, seus olhos se abrem, vagueia sonambulamente por entre a multidão que lhe vigia. Uma figura chama atenção de seu olhar, ele a pousa sobra ela sem identificar, nem mesmo entende por que a encara, seu corpo já se encontra estraçalhado, sua mente completamente quebrada. Mas... mesmo assim um odor, um odor diferente... um odor amadeirado e intenso se sobressai naquele misto de aromas que te rasga e lhe destrói.

“Esse aroma é real?”

Cedro....

“Duas horas se passaram, e ele não moveu nem mesmo um músculo.... O que da tanta força para este ministro?”

Os olhos de Gerânio se encontram com de Cedro...

“Seus olhos, por mais que arrisque dizer que ele está quebrado, vejo ainda determinação, será isso tudo seu orgulho?”

Os olhos vidrados de Gerânio continuam a encarar Cedro.

Neste momento, com com o olhar fixo Gerânio, seus olhos azuis faziam parecer o oceano, estavam tão imersos, que me senti tragado para dentro de si. Estavam profundos, escureciam cada vez mais, enquanto era levado por este devaneio.

“Allblue...”

Novamente aquele sentimento começou a surgir em Cedro, seus olhos vibravam, mas ainda continuavam fixos em Gerânio.

MEDO

Cedro novamente sentiu este sentimento, mas agora paralisado e imerso em si e em Gerânio, o tempo... não é mais linear. Cedro observa esse sentimento fluir... como uma pequena chama que aumenta enquanto é alimentado por gravetos... Ele o reconhece, e assim que o percebe, essa chama que só aumentava, agora diminuía.

“Toda cautela com os Allblue, era isso, era o medo??”

Vergonha... injúria... fúria....

Cedro desperta, e também de sua cautela. Confere uma última observada naquele que sofre, se vira e parte.

Foi o rio que me disse
Enviado por Foi o rio que me disse em 06/04/2021
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