Racismo instituído

Quando cheguei em Fortaleza em 2005, tinha uma semana que havia chegado, passando pela rua de cima, uma senhora acenou com mão me chamando:

—Ei mulher você trabalha onde?

Eu levantei minha cabeça e olhei bem fundo nos olhos daquela criatura e respondi:

—Não trabalho na casa de ninguém.

Você mora onde?

Ela estava querendo saber quem eu era.

Eu sou mãe de Larissa de Almeida, mesmo assim ela não se tocou e pediu pra pegar no meu cabelo que estava no ombro e bastante cacheado, ela tocou e me disse:

É mole!

Eu perdi o respeito e lhe disse você imaginava o quê?

Falei com uma agressividade tão grande que essa criatura me deixou em paz.

Isso é o quê? Afago?

Em outro tempo, lembro que lecionava numa escola daí uma criança me chamou e disse:

—Tia a senhora é tão bonita por que esse cabelo curto?

Eu pedi a atenção da turma repeti a pergunta do aluno e respondi:

—Porque o cabelo é meu a vida é minha e eu faço o que quiser pois vivemos num país livre e o que faço com meu cabelo, maneira de vestir entre outras coisas precisa ser respeitado.

Se não fosse dessa forma o mundo seria muito chato o que nos "une" são as diferenças.

Alguns alunos bateram palmas pra mim, outros resmungaram:

— Valha! Como a tia é grossa!

´Sofri sim chorei sim, mas aprendi a não abandonar meu sotaque baiano, a deixar meu cabelo grande cacheado quando queria e cortar bem curto também.

E no primeiro dia em sala de aula procurava deixar bem claro que era baiana, neta de uma negra chamada Clara, e que eu também era negra soteropolitana, que era diferente e que eles me respeitassem.

Clara de Almeida
Enviado por Clara de Almeida em 08/04/2021
Reeditado em 08/04/2021
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