_____________TELEFONEMA

 
O telefone tocou, olhei o visor: era uma amiga que anda meio sumida. Não atendi, desliguei. Fiquei pensando na chamada. Faz bem uns dois anos que ela e eu não nos falamos. Pensei que deveria estar com saudade dela. Mas não estava: ela é aquele tipo que só procura por alguém quando está precisando. Enjoei dela e de sua franca exploração. É chato pensar que só sirvo para servir. Há momentos em que a gente também quer, e merece, um mimo gratuito, é ou não é?

Mas, e pulga atrás da orelha? O que será que ela queria desta vez? E se estivesse querendo mesmo saber de mim? Em tempos de pandemia, talvez quisesse realmente saber as notícias. Sou mole pra essas coisas. Hesitei, pensei, decidi retornar a ligação. Não foi possível: antes de eu digitar, o visor acendeu. Era ela novamente. Atendi e ouvi a voz fazendo festa do outro lado:
— Oi, sumida! Tô precisando de um favor seu, amiga!
Fui noutro mundo e voltei. Desta vez não ia dar pilha pra ela. Disfarcei, fiz uma voz metálica e cortei:
 — Oi, aqui não é a Marina. Ela saiu!
—  Saiu? Uai! — ela insistiu do lado de lá. — Onde ela foi?
Ah, aí já era demais e ordenei à interprete de mim mesma:
— Diz que fui por aí...


Tema da semana: Diz que fui por aí...