À ESPERA
Andejo. Assim é o cronista. Que precisa andar pela cidade, ouvir o padeiro, o quitandeiro, o apontador do bicho, a balconista, os lamentos daqueles que perderam outra causa; ver a briga no trânsito, a juventude voltando trôpega da balada... A vida pulsa nas ruas e essa pulsação precisa ser sentida e absorvida pelo cronista. Daí Antônio Cândido considerá-lo o cão farejador do cotidiano.
Contudo, em tempos de lockdown e toques de recolher, me pergunto: por onde andar. Impedido de exercitar meu lado andarilho, escrevo sobre o cotidiano doméstico, “a dor e a delícia” de viver confinado em um quarto no quarto andar.
Para Xico Sá, a crônica “dá conta das miudezas da vida em comum”. Enquanto espero o entardecer e o repicar dos sinos na São João Batista, olho à janela. Não me faltam as palavras, falta-me o som das ruas... aflito, garatujo outras idiossincrasias no caderno já cansado de tanto palavrório.
E daí? ecoa o brado retumbante na caserna do planalto central. Cansado, continuo a escrever. E a esperar.